Um caminhão bomba matou três pessoas e iniciou um grande incêndio na ponte da Crimeia, infraestrutura-chave e símbolo da anexação da península ucraniana de mesmo nome. O caso foi anunciado pelas autoridades russas neste sábado, 8, que não acusaram imediatamente a Ucrânia.
Imagens de câmeras de segurança que circulam on-line mostram uma enorme explosão destruindo a ponte, enquanto alguns veículos passam por ela. O impacto pareceu ocorrer na passagem de um camião branco. Outras imagens mostram a linha férrea em chamas por dezenas de metros e um trecho desabado da estrada.
Os investigadores russos identificaram três mortos, passageiros de um carro que passava perto do caminhão no momento da explosão.
"Os corpos de duas vítimas – um homem e uma mulher – já foram retirados da água", disse a Comissão de Investigação, anunciando que apurou a identidade do proprietário do caminhão, morador da região de Krasnodar, no sul da Rússia.
Esta ponte, construída com grande custo por ordem de Vladimir Putin para ligar a península anexada ao território russo, é usada principalmente para transportar equipamentos militares ao exército russo que luta na Ucrânia.
Se a Ucrânia estiver por trás do incêndio e da explosão na ponte da Crimeia, o fato de que uma infraestrutura tão crucial e tão longe do front possa ser danificada pelas forças ucranianas seria uma vergonha para Moscou.
"Hoje às 06h07 (01h07 de Brasília) na parte rodoviária da ponte da Crimeia (…) ocorreu uma explosão de um veículo-bomba, que incendiou sete tanques ferroviários que estavam indo para a Crimeia", declarou o Comitê Antiterrorista russo. O órgão explicou que duas faixas rodoviárias foram danificadas, mas o arco da ponte não.
O porta-voz do Kremlin disse à agência Ria Novosti que Putin ordenou a formação de uma comissão governamental para apurar os fatos.
O tráfego ferroviário e rodoviário foi interrompido e balsas foram colocadas em operação para permitir a travessia, segundo as agências russas.
Se a Ucrânia não assumiu a responsabilidade por este atentado, os seus responsáveis multiplicaram os comentários irônicos, chegando os correios ucranianos a anunciar que preparam um selo para celebrar a ocasião. Tudo que é ilegal deve ser destruído, tudo roubado deve ser devolvido à Ucrânia", tuitou Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Essas reações levaram a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, a ver isso como um sinal da "natureza terrorista" das autoridades ucranianas. O exército russo, em dificuldades em Kherson, no sul da Ucrânia, garantiu que o envio de suprimentos a suas tropas não estava ameaçado. "O abastecimento (…) é feito de forma contínua e completa, ao longo de um corredor terrestre e parcialmente por mar", anunciou.
A Ucrânia atingiu várias pontes na região de Kherson nos últimos meses para interromper o abastecimento russo, bem como bases militares na Crimeia, ataques pelos quais só assumiu responsabilidade meses depois.
O chefe da Assembleia da Crimeia, o parlamento regional instalado pela Rússia, Vladimir Konstantinov denunciou um golpe "dos vândalos ucranianos". O líder da península, Serguei Aksionov, tentou tranquilizar dizendo que a Crimeia tinha reservas de combustível para um mês e comida para dois meses. Segundo ele, os trabalhos de reparação vão começar "quase hoje".
Um funcionário da ocupação russa na região ucraniana de Kherson, vizinha da Crimeia, Kirill Stremoussov, indicou que os reparos podem levar "dois meses".
A Rússia sempre sustentou que a ponte é segura apesar dos combates na Ucrânia, mas no passado ameaçou Kiev com represálias se as forças ucranianas atacassem essa infraestrutura ou outras na Crimeia.
O deputado russo Oleg Morozov, citado pela agência Ria Novosti, pediu neste sábado uma resposta "adequada". "Caso contrário, esse tipo de ataque terrorista se multiplicará", disse.
Desde o início de setembro, as forças russas foram forçadas a recuar em muitos pontos. Em particular, foram forçadas a se retirar da região de Kharkiv (nordeste) e recuar em Kherson.
Diante desses contratempos, o presidente Putin decretou no final de setembro a mobilização de centenas de milhares de reservistas para reverter a tendência. Também decretou a anexação de quatro regiões ucranianas, embora Moscou as controle apenas parcialmente.
O único campo de batalha onde Moscou atualmente tem vantagem é perto da cidade de Bakhmut, na região de Donetsk (leste), que as forças russas tentam tomar desde agosto.
Paralelamente, a usina nuclear de Zaporizhzhia perdeu sua última fonte de energia externa devido a novos bombardeios e está funcionando com geradores de emergência, informou hoje a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A usina obtém "a eletricidade necessária para resfriar seu reator e para outras funções essenciais" graças a geradores a diesel, acrescentou o órgão da ONU em comunicado. "A conexão foi cortada por volta de 1h00, horário local", disse a AIEA, com base em "relatórios oficiais da Ucrânia" e sua "equipe" de quatro especialistas presentes na maior usina nuclear da Europa.
O diretor da AIEA, Rafael Grossi, considerou a retomada dos bombardeios como "totalmente irresponsável".
A agência nuclear ucraniana, Energoatom, escreveu no Telegram que "a última linha de conexão foi danificada e desconectada" devido a bombardeios russos. Os seis reatores da usina estão desligados, mas precisam de eletricidade para suas funções vitais de segurança.
Os geradores a diesel da usina têm combustível suficiente para pelo menos dez dias.