O brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42, foi executado por fuzilamento nesta quarta-feira (29) na Indonésia, no início da tarde desta terça-feira (28) no Brasil, na ilha de Nusakambangan, no interior da Indonésia, segundo informações do jornal “The Jakarta Post”.
Cerca de 300 pessoas, entre jornalistas indonésios e estrangeiros, e curiosos locais estavam diante do porto de Wijayapura, que dá acesso à ilha de Nusakambangan. Longe do local de execuções, era o mais próximo a que os jornalistas podiam chegar.
A prima dele, Angelita Muxfeldt, e o encarregado de negócios da Embaixada do Brasil em Jacarta, Leonardo Monteiro, estavam na ilha no momento da execução. Eles haviam chegado ao local pouco mais de seis horas antes. Os dois, assim como outros diplomatas e familiares, foram mantidos a cerca de um quilômetro do local de fuzilamento, em uma área de onde é possível, no máximo, ouvir o barulho dos disparos, sem ver a cena.
Monteiro, assim que o fuzilamento acabou, foi o responsável por reconhecer o corpo de Gularte. O brasileiro pediu à família para ser enterrado no Brasil. O pedido foi feito nesta segunda (27) à prima, Angelita Muxfeldt, 49, e fez a família mudar os planos. Até esta segunda, a ideia era cremá-lo na Indonésia e levar as cinzas para Curitiba (PR), onde o brasileiro nasceu. Dada a burocracia, o envio do corpo pode levar algumas semanas.
O governo brasileiro protestou, na véspera da execução, mencionando o fato de Gularte ter esquizofrenia constatada por dois laudos médicos, e ter sido morto mesmo assim. A Procuradoria-Geral da Indonésia, que leva adiante as execuções, chegou a examinar o brasileiro, mas o resultado nunca foi divulgado. A argumentação da Indonésia era que o fato de ser doente não impedia a aplicação da pena capital.
Pedido de clemência
A Justiça da Indonésia ignorou recurso protocolado nesta terça pela defesa de Rodrigo Muxfeldt Gularte. O recurso consistia em pedir à Corte Administrativa de Jacarta que fosse revista a decisão do presidente Joko Widodo de negar clemência ao brasileiro. Foi com recurso similar que, na semana passada, a defesa do francês Serge Atlaoui conseguiu adiar a sua execução.
Gularte foi condenado à morte por tráfico de drogas em 2005, depois de ter sido preso no ano anterior com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe.
A mãe de Gularte, Clarisse, soube da execução em Curitiba, onde estava com familiares. A família preferiu que ela não viajasse para a Indonésia, por medo do seu estado de saúde. A mãe havia visto o filho pela última vez em fevereiro.
O corpo de Gularte será levado de avião de Cilacap para Jacarta, onde a família tomará as providências para leva-lo de volta ao Brasil.
Execução de brasileiros
Gularte foi o segundo brasileiro na história a ter recebido a pena capital em tempos de paz. O primeiro havia sido Marco Archer Cardoso Moreira, 53, pouco mais de três meses atrás; ele foi executado em 18 de janeiro no horário da Indonésia, tarde do dia 17 no Brasil.
Tal qual Archer, Gularte foi condenado à morte por tráfico de drogas. Em 31 de julho de 2004, ele e mais dois amigos foram flagrados com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe. O brasileiro liberou os dois colegas dizendo que a droga era toda dele.
Menos de um mês antes, Marco Archer havia sido condenado à morte por tentar entrar no aeroporto de Jacarta com 13,4 quilos de cocaína. Ele havia sido flagrado com a droga em 2 de agosto de 2003, escapou no aeroporto e foi recapturado duas semanas depois.
Execução
Pelo protocolo de execução, Rodrigo ficou preso a uma estaca com as mãos amarradas para trás. Ainda não se sabe se escolheu ficar em pé, ajoelhado ou sentado ou se pediu para não ser vendado. Ele vestia uma camiseta branca com um “X” preto na altura do peito, para facilitar a mira dos atiradores –são doze em cada pelotão de fuzilamento.
O padre Charlie Burrows esteve com Gularte minutos antes da execução, a pedido da família e do próprio condenado. A Folha ainda não conseguiu falar com ele. Depois do conforto espiritual, os atiradores recebem de um oficial do pelotão uma ordem –por meio de um sinal de apito– para preparar seus fuzis.
O comandante do pelotão então levanta uma espada, o que significa a determinação para que o pelotão mire no peito do condenado. Quando ele abaixa a espada, os atiradores disparam. Apenas três das armas são carregadas com balas de verdade; o restante são projéteis de festim, de modo que ninguém saiba quem deu o tiro fatal.
É exigido um pelotão de 12 atiradores para cada condenado, o que representa 108 pessoas apenas a mirar nos prisioneiros. No campo aberto onde as execuções acontecem há também médicos, religiosos e policiais. Ao médico cabe constatar a morte. Uma vez que isso acontece, o corpo é limpo e nele é colocada uma roupa, provavelmente um terno, e então posto em um caixão branco dentro de uma ambulância.
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