Sábado, dia 3 de outubro de 2012. A derrota para o Bragantino ainda não havia descido pela garganta quando o telefone do vice-presidente do Vitória, Carlos Falcão, tocou em Salvador. Do outro lado da linha, o presidente do clube, Alexi Portela, falava rápido, quase sem espaço para respostas. Após alguns minutos de conversa, uma decisão. Duas semanas após demitir Paulo César Carpegiani e efetivar o auxiliar Ricardo Silva como técnico do clube, a alta cúpula do Rubro-Negro resolvia voltar ao mercado à procura de um novo treinador.
Durante o telefonema, os cartolas discutiram possibilidades e se permitiram sonhar. Antes de acertar com qualquer nome, o pensamento dos dirigentes atravessou o oceano atlântico em busca de um treinador que há dez anos havia sido campeão mundial. Luiz Felipe Scolari, o Felipão, estava na mira da equipe baiana. Um investimento que exigiria uma elaborada engenharia financeira – Felipão ganhava R$ 9,6 milhões por ano no Palmeiras -, mas que traria todos os holofotes do futebol brasileiro para a Toca do Leão.
O consenso em torno do nome de Felipão surgiu de maneira quase acidental. Carlos Falcão, Alexi Portela e o diretor de futebol do Vitória, Raimundo Queiroz, faziam uma lista com os treinadores à disposição no mercado para começar a discutir qual nome mais se adequava ao perfil do clube. Foram minutos e várias sugestões até que a lâmpada acendeu. Luiz Felipe Scolari estava sem clube desde que foi demitido do Palmeiras, no dia 13 de setembro.
– Sabíamos que o Felipão estava sem clube e foi algo que especulamos durante nossa essa conversa com o presidente. Resolvemos arriscar. Entramos em contato com o empresário dele para saber se existia a possibilidade de iniciar uma negociação. Mas nos foi informado que ele estava em Portugal, já comprometido com outro time para o final do ano. A gente não chegou nem a fazer proposta. Mas o Felipão foi um nome que a gente especulou. Daria uma motivada no grupo – disse Carlos Falcão, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM.
A missão Felipão envolvia muito mais do que futebol. Com a contratação do ex-técnico palmeirense, o Vitória pretendia iniciar uma grande campanha de marketing, chamando a atenção de grandes investidores no ano do retorno do Rubro-Negro para a elite do futebol nacional. Ousado, o plano empolgou os dirigentes do clube. Felipão era a aposta perfeita para um casamento dos sonhos. O único problema é que o treinador já tinha outro parceiro.
– O Scolari já está com clube praticamente acertado para o final do ano. Mas não posso revelar qual time ele vai treinar. Claro que se a gente se tivesse evoluído na negociação, seria uma jogada não só motivacional, mas também de marketing. A contratação do Felipão tinha tudo para render bons frutos para o Vitória – assegurou Falcão.
Quem não tem Felipão caça com PC Gusmão
Após receber a notícia da impossibilidade de contratação de Felipão, o Vitória partiu para o plano alternativo. Em entrevista a uma rádio local, o presidente do Vitória, Alexi Portela, afirmou que pensou em abrir negociação com o técnico Givanildo Oliveira, que atualmente está no ABC, mas já passou pelo Vitória em 2007.
– Pensamos em Felipão, mas ele estava em Portugal. Também pensamos no Givanildo, mas ele está no ABC. A gente não podia ficar como estava, o time estava inoperante – destacou o cartola.
Só então os dirigentes voltaram os olhos para Paulo César Gusmão, sonho antigo do clube e que havia acabado de ser demitido do Ceará. As tratativas ocorreram por telefone e tudo foi muito rápido. O primeiro contato foi no sábado de noite. No domingo pela tarde, o site oficial do Vitória já anunciava o treinador como novo comandante.
– O PC Gusmão é um treinador que a gente já vinha avaliando há muitos anos, mas nunca tinha dado certo. Ele é um dos nomes preferidos da lista do presidente. Dessa vez conseguimos contratá-lo. A gente convidou no sábado de noite e, no domingo à tarde, ele deu o ‘sim’. Estamos muito satisfeitos. Só fizemos uma proposta oficial e foi para o PC Gusmão. Tenho certeza que ele vai obter os resultados que precisamos – destacou Carlos Falcão.
Além de conquistar o acesso, PC Gusmão recebeu uma missão logo nas primeiras tratativas com os dirigentes rubro-negros. Assim que chegasse em Salvador, o treinador teria que motivar o elenco e acabar com qualquer problema relacionado ao comportamento dos jogadores, tarefa que já havia sido dada a Ricardo Silva no momento da demissão de Paulo César Carpegiani.
– A gente tentou, com a saída de Carpegiani, dar uma motivada no grupo com a efetivação do Ricardo Silva. Infelizmente não houve uma mudança de postura nos três jogos que ele dirigiu o time. Logo após o jogo contra o Bragantino, o presidente Alexi Portela me ligou de lá de Bragança, eu estava conversando com o Raimundo Queiroz, e a decisão foi tomada de a gente fazer uma nova tentativa de dar uma sacudida no pessoal. Esperamos muito mais. Queremos que o Vitória volte a vencer dentro e fora de casa. Hoje não estamos vencendo nem no Barradão – lembrou o vice-presidente do Vitória.
A decisão de dar férias a Ricardo Silva, ao preparador físico Ednilson Senna, e ao auxiliar Alex Fernades, foi tomada após as últimas conversas com PC Gusmão. Foi o próprio treinador que optou por não trabalhar com a comissão técnica fixa do Vitória.
– Ele quis trabalhar sozinho, sem o Ricardo Silva, e nós concordamos com ele. O PC Gusmão pediu para trazer a comissão técnica dele e nós aceitamos – resumiu Falcão.
De início, os planos da diretoria do Vitória eram fazer um contrato para a final da Série B com preferência de renovação para 2013. No entanto, PC Gusmão dificilmente deve continuar no clube baiano na próxima temporada. Durante a apresentação, na última segunda-feira, o treinador revelou que já possui um pré-contrato assinado com um time do Emirados Árabes e que, a princípio, só treina o Rubro-Negro nos quatro jogos que faltam para encerrar a Série B.
A diretoria rubro-negra, entretanto, ainda não desistiu de convencer o treinador a ficar em Salvador por mais tempo que o previsto inicialmente.
– A contratação tem que ser vontade do clube e do treinador. Quando pensamos no PC Gusmão, não foi só para quatro jogos. Foi para ganhar o título da Série B, se possível, e comecar a desenvolver um trabalho para 2013. Se não for possível, pensaremos em outro. Lamento que ele esteja entrando no final do campeonato, mas tenho certeza que acabará esse campeonato e começará conosco no ano que vem – disse o otimista cartola rubro-negro.
Na última terça-feira, PC Gusmão estreou à frente do Vitória. Sob comando do novo treinador, o time baiano venceu o América-MG pelo placar de 5 a 3 e deu um passe importante em direção a Série A. O Rubro-Negro já pode garantir a vaga na elite do futebol nacional na próxima rodada. Tudo depende de um bom resultado contra o Guaratinguetá, no sábado, e um tropeço do São Caetano, primeiro time fora do G-4.
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G1