Dentro do estádio Mineirão, 57.483 pessoas viram nesta quarta-feira o Brasil ganhar do Uruguai no sufoco para se classificar à final da Copa das Confederações. Enquanto isso, a poucos quilômetros dali, uma multidão estimada em 50 mil pessoas protestava em Belo Horizonte contra os gastos públicos para a realização do torneio atual e da Copa do Mundo do ano que vem.
Como já havia ocorrido no sábado, quando 60 mil pessoas saíram às ruas da cidade para protestar no dia da partida entre México e Japão no Mineirão, a Avenida Antonio Carlos, a cerca de dois quilômetros do estádio, se transformou em uma praça de guerra, com episódios de violência e disparos de bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha pela Polícia Militar.
Uma concessionária de veículos foi incendiada por manifestantes.
Pelo menos 2 pessoas ficaram feridas, uma delas com gravidade, após cair de um viaduto por onde os manifestantes passaram. Ao menos 14 pessoas foram presas, acusadas por atos de vandalismo ou por portar objetos que poderiam ser usados para atacar policiais, segundo o comando da corporação.
Pequenos grupos promoveram saques e quebraram fachadas de pontos comerciais ao longo da avenida, iniciaram incêndios e quebraram centenas de garrafas de cerveja retiradas de uma loja de conveniência.
Os enfrentamentos entre manifestantes e policiais continuavam após o término da partida, e a tropa de choque da PM intensificou a ação contra os manifestantes para permitir a saída dos torcedores.
Esta foi a maior manifestação já realizada perto dos estádios onde a seleção brasileira jogou na Copa das Confederações. Antes de Belo Horizonte, o Brasil havia jogado em Brasília, Fortaleza e Salvador na primeira fase da competição.
Ainda na noite desta quarta, para conter as manifestações, a polícia ocupou a praça Sete de Setembro (Centro), descumprindo acordo combinado antes dos protestos. E os policiais chegaram a pedir, com carro de som, que a população voltasse para suas casas porque havia ‘bandidos’ nas ruas.
Apoio
Dentro do estádio, a torcida apoiou fortemente o time e saiu satisfeita com a vitória por 2 a 1. O Brasil agora aguarda o resultado da partida entre Espanha e Itália, nesta quinta-feira, para conhecer o adversário na final, no domingo, no Maracanã, no Rio de Janeiro.
Como já vem se tornando norma nos jogos da seleção na Copa das Confederações, os torcedores no Mineirão cantaram o hino brasileiro até o final após a apresentação das equipes, mesmo após o término dos 90 segundos normalmente executados pelo serviço de som do estádio.
A equipe foi aplaudida durante todo o jogo, mesmo após o gol de empate do Uruguai, marcado no início do segundo tempo. A torcida vibrou com o pênalti defendido pelo goleiro Júlio César no primeiro tempo, aumentou a intensidade dos aplausos com a entrada do ídolo local Bernard, meia-atacante do Atlético Mineiro, no meio do segundo tempo, e foi à loucura com o gol de desempate marcado por Paulinho a cinco minutos do fim do jogo.
A satisfação com o resultado dentro de campo não se repetiu em relação às condições gerais do estádio. Muitos torcedores reclamaram das grandes filas para as lanchonetes e para os banheiros e da escassez de áreas de circulação, que ficaram superlotadas.
Chegada antecipada
A expectativa sobre a realização do protesto desta quarta-feira levou muitos torcedores a antecipar a chegada ao Mineirão. Quatro horas antes do início da partida, o movimento nos arredores do estádio já era intenso.
‘Tentamos chegar o mais cedo possível para evitar o protesto’, afirmou o professor de educação física Gabriel Santos, de 31 anos, que foi ao jogo com a mulher, a administradora Marcela Santos, de 30 anos, e uma tia, a professora Sônia Santos, de 59.
O grupo saiu de Ipiúna, no sul de Minas Gerais, e enfrentou várias horas de estrada, com direito a um desvio na rodovia Fernão Dias, fechada por um protesto. ‘Até estrada de terra tive que pegar para conseguir chegar aqui a tempo de evitar as manifestações’, disse Gabriel Santos.
O eletricista Reinaldo Inácio Dimas, de 36 anos, acompanhado da namorada e de um sobrinho de 14 anos, disse que chegou várias horas antes do jogo para convencer a mãe do garoto a deixá-lo ir ao Mineirão. ‘A mãe dele não queria deixá-lo vir. Só conseguimos convencê-la dizendo que chegaríamos bem cedo para evitar a confusão’, afirmou.
O aposentado Silvio de Lima Brandão, de 63 anos, e a professora Meire Lúcia Rezende, de 52, chegaram ao Mineirão às 9h30, mais de seis horas antes do início da partida. ‘No jogo entre México e Japão, compramos ingressos e decidimos não vir por causa dos protestos, mas hoje não dava para perder, então resolvemos chegar mais cedo.’
‘Manifestações não atrapalham’
Apesar do temor em relação à violência das manifestações, as declarações de apoio aos protestos eram quase unânimes entre os torcedores consultados nas proximidades do Mineirão. ‘A manifestação é válida, tem que ser feita’, disse o empresário Ari de Souza Quíntamo, de 56 anos.
‘As manifestações não atrapalham, mesmo se acabarem com o futebol. Seria melhor acabar com a Copa do que manter as coisas como estão’, disse o empresário, que viajou de Linhares, no Espírito Santo, a Belo Horizonte especialmente para assistir à partida com o filho, Derik, de 26 anos, e a nora Mariana, de 21.
Entre um mar de camisetas amarelas, era quase impossível encontrar algum torcedor uruguaio. Morador de Porto Alegre, o médico Jorge Fagundes, de 43 anos, era um desses raros representantes do país vizinho.
Acompanhado da mulher, a empresária brasileira Eni Fagundes, de 51 anos, ele conta estar seguindo as duas equipes ao longo do torneio. ‘Vimos as três primeiras partidas do Uruguai e as três primeiras do Brasil e vamos às duas semifinais e à final’, disse ele, que se disse um fanático por futebol. ‘Se houvesse uma partida na Lua, iria para lá também’, afirmou.
O uruguaio afirmou ser favorável aos protestos populares contra os gastos públicos para a realização da Copa. ‘Lamentavelmente, o Brasil é um país onde a corrupção é altíssima. Os brasileiros são um povo trabalhador, mas que enfrentam a maior carga de impostos do mundo e não são respeitados pelo governo, que arrecada todo esse dinheiro e não fornece serviços públicos de qualidade’, disse.
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