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Assassino de Augusto Omolú trocou celular roubado do bailarino por 4g de cocaína

Cléverson dos Santos foi preso e contou à polícia que esfaqueou bailarino do TCA depois de o coreógrafo ‘tentar contra ele’ durante relação sexual. Crime aconteceu no dia 2 de junho

Omolú conheceu Bobô na Barraca São Lucas, onde costumava parar antes de voltar para o sítio, em Buraquinho, Lauro de Freitas. Naquela noite de 2 de junho, ele, que não costumava ficar até tarde no bar, só saiu depois da banda de arrocha, três conhaques com limão e mel e algumas cervejas.

Depois, os dois foram à loja de conveniência de um posto de gasolina, onde Omolú pediu que  Bobô comprasse três latões de Schin e uma carteira de cigarros. Bobô fez a compra e devolveu o troco.

Em seguida, Omolú propôs que os dois fossem para sua casa e ofereceu R$ 100 pelo programa. A proposta foi aceita, mas Omolú, bailarino e coreógrafo do Balé Teatro Castro Alves (BTCA), acabaria assassinado a facadas por Bobô

Após matar Omolú, Cléverson dos Santos trocou celular de vítima por 4g de cocaína; Omolú tinha 50 anos e deixou três filhos: parentes não acreditam em versão de preso

Bobô é Cléverson dos Santos, um ajudante de pedreiro de 20 anos. Acusado de matar o bailarino, Bobô foi preso sexta-feira passada, em Portão,  por agentes da 23ª Delegacia (Lauro de Freitas), onde mora. Ele foi apresentado ontem na sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), no CAB, contou essa versão para o crime e alegou legítima defesa.

Segundo ele, foi a primeira vez que  fez programa. “Como era mês de São João, precisava do dinheiro”, declarou, em depoimento ao titular da 23ª Delegacia, Joelson Reis.

O crime aconteceu, segundo Cléverson, quando Omolú “tentou contra ele”.  Ao término da relação sexual combinada, o coreógrafo propôs uma inversão de papéis.

“Augusto (Omolú) falou que ele não poderia sair do sítio, que estava trancado, e foi nesse momento que o plano começou a ser arquitetado”, explica Joelson.
Como duas cervejas já haviam sido consumidas, Cléverson foi até a cozinha com a desculpa de pegar a terceira lata e voltou com uma faca. Na volta, os dois teriam discutido e Bobô acabou esfaqueando o bailarino.

O laudo da perícia ainda não foi concluído, mas a polícia estima que os três a quatro golpes de faca na altura do pescoço que mataram Omolú tenham sido desferidos entre 3h e 4h da manhã.

Às 4h25, o acusado foi flagrado por câmeras de segurança particulares a 50 metros da chácara, com roupa manchada de sangue e carregando um celular, furtado da vítima. O corpo de Omolú foi encontrado no dia seguinte pelo caseiro, apenas de cueca, de barriga para cima, no espaço entre a cozinha e a sala da casa.

Tráfico Junto com Cléverson, a polícia apresentou também Aldair Iran, 18, José Claudio Andrade Lima, 35, e Paulino dos Santos, 57. Segundo a polícia, os três estão envolvidos com tráfico de drogas na região e na compra e venda do celular roubado.

Segundo o delegado, foi através da prisão de Paulino, há 15 dias, que os policiais começaram a chegar ao assassino de Omolú. Preso com o celular roubado, ele contou que tinha comprado o celular de José Claudio, que por sua vez alegou ter conseguido o aparelho com Aldair, que acabou apontando Cléverson como o autor do roubo.

Após o furto na casa de Omolú, Bobô teria passado o aparelho a Aldair em troca de 4 gramas de cocaína, que equivalem a cerca de R$ 80; Aldair, por sua vez, repassou a Paulino, por R$ 100, com a intermediação de José Cláudio, o  Lubi.

Cléverson vai responder por homicídio doloso e furto. Se condenado, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão pelo homicídio e 1 a 4 anos pelo furto do celular. Já Aldair, José Cláudio e Paulino responderão por receptação, cuja pena varia de 1 a 4 anos.

Ainda segundo a polícia, Cléverson já havia sido preso em  2011, quando roubou um celular e R$ 200 de uma mulher na região de Itinga. Ele cumpriu seis meses de pena.

Barraca
No bar frequentado por Omolú, localizado na Estrada do Coco, próximo à entrada do bairro de Portão, ninguém sabia da sua fama internacional. “Só fui saber que ele era tão conhecido depois da morte. Ele deveria era andar com guarda-costas”, conta Cláudio Francisco, dono do estabelecimento.

Ele conta que Augustão, como ele se refere ao dançarino, chegava a passar no local uma ou duas vezes por dia. “No caminho de ida e volta para o sítio ele parava para tomar uma”, relata.

Segundo Cláudio, o cliente fiel não discutia nem sobre futebol e só ia ao bar sozinho ou acompanhado de um dos filhos. Além de consumir a cerveja no local, Omolú costumava levar bebida para casa. “Às vezes os filhos esqueciam de devolver os cascos e ele só trazia quando voltava de viagem”, relata, entre risos, o vendedor.

No dia da morte, Cláudio estranhou a demora de Augustão no bar. Em vez de sair antes da banda de arrocha começar a tocar, como costumava fazer, ele curtiu sua última festa até o final. “Tinha umas 150 pessoas, não dava pra ver se ele tinha conhecido alguém, mas nunca vi esse cara (Bobô) por aqui”, explica.

Crime
Augusto Omolú tinha 50 anos e morava sozinho desde 2005 na chácara. Ele era casado com Liza Ginzbur, que morava na França, e tinha três filhos. De acordo com um dos filhos, Gustavo Conceição, de 30 anos, Omolú já havia colocado o sítio à venda por conta da vulnerabilidade do local.

O corpo de Omolú foi sepultado no dia 4 de junho no cemitério Ordem Terceira de São Francisco, na Baixa de Quintas. Dezenas de familiares, amigos e admiradores do artista compareceram ao enterro para dar o último adeus.
Na cerimônia, foram realizados ritos de passagem do candomblé.

Família duvida de programa, mas comemora prisão de acusado
Familiares e amigos de Augusto Omolú rejeitam a versão do acusado que diz ter assassinado o bailarino depois de ter sido convidado para fazer um programa na casa dele. “Eles querem denegrir a imagem do meu irmão. Eu não acredito nisso. Augusto era amigo de todos, a casa dele era aberta”, disse a irmã Jaciara Maria da Purificação Conceição, que não entra na questão da sexualidade do irmão.

O filho também não acredita no que foi dito pelo acusado. “Eu não conhecia o rapaz e meu pai também não está aqui para se defender, sendo assim não vou me pronunciar sobre isso”, afirmou Gustavo Conceição, que se diz satisfeito com as prisões.

“É uma prova de que neste país ainda há justiça, embora ele não vá mais voltar. Sou muito grato ao pessoal da 23ª Delegacia, pois o crime foi solucionado em um tempo até ágil”, ressaltou. O diretor e fundador do Balé Folclórico, Vavá Botelho, faz coro com a família de Omolú.

“Eu achei muito estranho. Essas explicações não me convenceram. Independente do fator sexual, havia um valor acertado (para o programa) e o cara disse que veio se defender de quê? Não faz sentido. Tem alguma coisa que não está bem explicada. Foram apresentadas outras pessoas envolvidas, então não era um simples programa. Essa questão sexual está sendo usada de maneira infantil para justificar um crime bárbaro. E não justifica. Tive um convívio intenso com Augusto. Ele não era disso”, contou Vavá.

A produtora Eliana Pedroso, grande amiga de Omolú, ressaltou que é preciso tratar o assunto sem preconceito. “Eu acho que a gente se sente um pouco menos aviltado quando os responsáveis são presos. Agora o mais importante é se tratar o caso com muito respeito em relação à memória do Augusto”, pontuou.

Já para Marcos Napoleão, bailarino do Balé Teatro Castro Alves (BTCA), a versão pode ser verdadeira. “Eu tinha certeza que não era ninguém que ele conhecia, pois Augusto era muito querido. Infelizmente, ele levou alguém que ele não conhecia para casa”, disse o bailarino. Camila Botto.

GGB destaca  homofobia do crime e alerta para perigos
O Grupo Gay da Bahia (GGB) atribuiu ao crime um caráter homofóbico por conta das circunstâncias. “A homofobia faz com que gays e bissexuais trilhem o caminho da clandestinidade, se envolvendo com pessoas desconhecidas para finalidade sexual em momentos e condições vulneráveis”, declarou Marcelo Cerqueira, presidente da entidade.

O GGB parabenizou a polícia. “É importante a aplicação severa da lei e sua publicidade para desestimular novos crimes”. Em nota, o GGB ainda alerta que não é “mais possível levar desconhecidos para casa ou mesmo para lugares fora de circulação de pessoas. E no caso de levar alguém com finalidade sensual, especialmente LGBTs, é importante que outras pessoas possam ver o acesso de ambos, o que não é garantia, mas que inibe alguma possível ação de violência física ou morte”.

Correio

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