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Relatório desclassificado pela FAB revela que OVNIs observados em 1986 tinham comportamento inteligente

O relatório se refere a um episódio que ficou conhecido como a “noite oficial dos discos voadores” no Brasil | FOTO: Ilustração |

A verdade está lá fora. Com essa frase os produtores da já clássica série “Arquivo-X” atiçavam a curiosidade dos telespectadores em meio a rocambolescas tramas que envolviam conspirações, alienígenas e criaturas bizarras. Sempre curti bastante as aventuras de Mulder e Scully, que acabam de completar duas décadas de existência. Mas as verdadeiras histórias de óvnis são bem mais legais. Peraí, verdadeiras? Há verdadeiras? Olha só, se seguirmos o que disse a Força Aérea Brasileira (FAB) em um documento recentemente “desclassificado” pela corporação (ou seja, liberado de seu status confidencial), os objetos voadores não-identificados existem sim e pressupõem ações inteligentes! Leia este trecho do relatório que foi assinado pelo brigadeiro-do-ar José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, comandante interino do NuCOMDABRA (Comando de Defesa Aérea Brasileira), em 2 de junho de 1986.

Recentemente tive de dar uma de Fox Mulder para produzir um dossiê sobre todos os relatos de óvnis liberados dos arquivos da FAB (para lê-lo, procure a edição de setembro da revista “Superinteressante”), e esse foi o documento mais interessante com que deparei. Por uma razão muito simples. Ele é uma das raras instâncias, entre as mais de 2.600 páginas liberadas e colocadas à disposição do público para consulta no Arquivo Nacional, em que os militares tiram conclusões. Oficialmente, a Força Aérea Brasileira jamais reconheceu a existência ou a natureza dos óvnis. Mas escondida lá, no meio de páginas e mais páginas, há essa pérola.

O relatório se refere a um episódio que ficou conhecido como a “noite oficial dos discos voadores” no Brasil. Em 19 de maio de 1986, diversos óvnis foram detectados por radar e por contato visual, houve perseguição mútua entre caças da FAB e os objetos misteriosos, capazes de incríveis variações de velocidade, direção e altitude, conforme descrito no trecho destacado acima. A conclusão é tão taxativa quanto pode ser para um grupo de pessoas perplexas. “(E)ste Comando é de parecer que os fenômenos são sólidos e refletem de certa forma inteligências, pela capacidade de acompanhar e manter distância dos observadores como também voar em formação, não forçosamente tripulados”, diz o relatório.

“EU QUERO ACREDITAR”
Talvez o leitor mais familiarizado com este espaço esteja estranhando a presença de um texto sobre ufologia — o esforço (normalmente tido como pseudocientífico) de estudar os “causos” de objetos voadores não-identificados. Considere-o uma provocação. Porque se, de um lado, temos de admitir, como o fazem os cientistas, que ufologia não é ciência, por outro há de se reconhecer que existe uma certa arrogância intelectual em descartar todo e qualquer relato de óvni como alucinação ou fraude. É verdade que a imensa maioria dos episódios relatados ao longo das décadas é mentira deslavada ou piração de quem conta. Cerca de 99% das ocorrências é facilmente descartada como fenômeno natural ou fraude.

(Eu mesmo já tive de desmascarar uma fraude uma vez, quando um fotógrafo espertinho disse ter registrado óvnis sobrevoando o tradicional prédio do Banespa, no centro de São Paulo. Ele tentou vender as imagens para a Folha e, como repórter familiarizado com fenômenos celestes, coube a mim avaliá-las. Consultei o astrônomo Cássio Leandro Barbosa, da Univap, e ele matou a pau: os supostos discos voadores não passavam de reflexos gerados no interior da câmera pelos característicos postes de três lâmpadas localizados naquela região do centro da cidade. Salvamos uns trocados do jornal naquele dia e frustramos os planos malévolos do espertalhão.)

Acontece que, tirando todos esses enganos e fraudes, sobram, ainda, uns poucos casos que desafiam qualquer explicação trivial. Cientistas de primeira linha tomados por uma dose incomum de coragem, como Michio Kaku e David Grinspoon, já admitiram que há coisas inexplicadas no céu e que, embora isso não seja prova de que existam alienígenas inteligentes nos visitando, cabe seguir o bom e velho conselho do saudoso Carl Sagan e manter a mente aberta. Há duas ordens de argumentos contra a hipótese de que os óvnis sejam espaçonaves extraterrestres. A primeira diz respeito às dificuldades envolvidas no voo interestelar, que é impraticável pelas tecnologias atuais e impõe um desafio tão grande que muitos astrônomos preferem supor que ele seja impossível.

A segunda linha de frente contra as naves ETs é o fato de que, até agora, elas conseguiram impedir que qualquer prova material de sua existência fosse analisada por cientistas imparciais. Os fãs da ufologia querem crer numa conspiração governamental que esconde esses artefatos assim que os localiza, mas quem lê o Mensageiro Sideral com frequência sabe que eu não me entusiasmo facilmente com teorias conspiratórias. Os dois argumentos, tanto o da improbabilidade das viagens entre as estrelas como o da falta de provas materiais, são bem razoáveis, e não culpo os cientistas por se ancorarem neles para não acreditar na hipótese da visitação alienígena. Mas existe aí também uma pretensão não muito científica ao afirmar que essas justificativas eliminam qualquer possibilidade de que pelo menos alguns dos óvnis não explicados sejam mesmo alienígenas.

CIÊNCIA DE FORA
Essa repulsa científica tem justamente a ver com o fato de que ufologia não é ciência. Ela carece de alguns elementos essenciais ao método científico, como a capacidade de reproduzir experimentos e formular hipóteses, ou a viabilidade de verificação por pares dos dados obtidos. Em geral, os relatos ufológicos acabam sendo aceitos pelo valor de face, porque é impossível separar os casos possivelmente verdadeiros dos falsos. Está tudo no mesmo saco. E não se pode fazer ciência misturando relatos verdadeiros e falsos. Não é à toa que os ufólogos menos maliciosos (ou seja, aqueles que não têm por objetivo enganar ou manipular seu público) são obrigados a admitir que, mesmo supondo que os ETs estejam entre nós, é impossível saber o que eles estão fazendo aqui e o que querem conosco.

Seria mais ou menos como os macacos resos do Instituto Butantan tentarem descobrir o que aqueles caras querem com eles ao injetar aquela vacina experimental contra o HIV. Faltam informações e controle aos nossos primos símios (para não falar em inteligência) para tirar qualquer conclusão científica a respeito do procedimento a que são submetidos. Resumo da ópera: os óvnis são um fenômeno interessante, que pode até ter relação com astronautas alienígenas, por mais improvável que isso possa soar à luz da ciência. Contudo, é um daqueles temas inabordáveis pelo método científico, que entra na mesma categoria das religiões e do sobrenatural. Se um ET descer na Avenida Paulista e se prontificar a nos explicar as coisas, o assunto deixa de ser ufologia e passa a ser xenobiologia.

E para verificar que a ufologia tem mais a ver com psicologia do que com alienígenas, basta verificar o levantamento de dados publicado pela “Superinteressante” com base nos documentos da FAB. De todos os episódios datados desde os anos 1950, o menor número de casos (14) é justamente nessa década inicial, onde a TV ainda tinha um papel pouco importante na vida dos brasileiros. Já o maior número de casos (249), disparado, ocorre na década de 1990, quando estreava um certo seriado chamado… “Arquivo-X”. Será que tem a ver? Eu apostaria que sim. Texto extraído na íntegra da Folha OnLine.

 

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