Nova planta vai injetar 12,5 MWh de energia limpa na matriz baiana
A inauguração de uma nova planta no Centro Industrial de Aratu (CIA), em Candeias, no dia 26 de março se tornou palco de menções e críticas à crise vivida atualmente pelo setor energético do país.
A nova planta, inaugurada pelo grupo Energias Renováveis do Brasil (ERB), em parceria com a empresa do setor petroquímico Dow Brasil, já funciona em fase de testes e começará a produzir vapor e energia gerados a partir de biomassa de eucalipto na sexta-feira da próxima semana. ERB e Dow estabeleceram um contrato de 18 anos para o fornecimento de vapor e energia. A usina consumirá 10,4 mil hectares de madeira plantada em áreas degradadas do Litoral Norte.
O projeto, o primeiro da ERB a entrar em funcionamento no Brasil, abastece com energia limpa a maior unidade da Dow no país, substituindo parte do gás natural que abastece a unidade atualmente.
Críticas
Durante a inauguração, representantes de ambas as empresas e do governo estadual chamaram a atenção para a necessidade de diversificar a matriz energética brasileira, investindo em fontes renováveis de energia como a cogeração a partir da biomassa, fontes eólica e solar.
“A falta de chuvas no primeiro trimestre deste ano nos lembra que, realmente, temos que diversificar mais a matriz energética. Isso também ajudará a dar mais competitividade à energia que a gente produz no Brasil”, disse o presidente da Dow América Latina, Pedro Suárez. “O Brasil tem uma das energias mais limpas do mundo, mas ainda é preciso maior diversidade”, ponderou. Hoje, cerca de 70% da energia brasileira vem das hidrelétricas.
Com o projeto, serão substituídos 83 milhões de metros cúbicos de gás natural usados na fábrica da Dow, empresa do ramo petroquímico, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. Estima-se que 169 mil toneladas de dióxido de carbono deixarão de ser lançadas na atmosfera anualmente.
A unidade tem capacidade para produção anual de 1,08 milhão de toneladas de vapor industrial e 108 mil MWh de energia elétrica. O investimento de cerca da R$ 265 milhões é responsável pela geração de 1,3 mil empregos diretos e 3,4 mil indiretos, nas áreas industrial e florestal.
O presidente da ERB, Emílio Rietmann, também deu destaque à crise energética em seu discurso. “No momento em que o país vive uma situação absolutamente crítica no setor de energia elétrica, essa planta vai injetar 12,5 MWh na rede elétrica”, ressaltou. A energia será vendida e injetada ao sistema elétrico nacional. Essa quantidade de energia é quase suficiente para suprir o consumo mensal de uma cidade como Camaçari, ou para suprir totalmente a demanda em municípios como Itabuna e Juazeiro.
Rietmann também chamou a atenção para a necessidade de aproveitar o potencial do país para investir em energias renováveis. “Eu não posso acreditar que um país que tem 180 milhões de hectares de área em pastagens degradadas, e que tem a competência do Brasil tem em produção de biomassa no agrobusiness, não consiga aliar essas competências e inserir definitivamente a biomassa em sua matriz energética”, criticou. “A chance de fazer isso é agora”.
Isenção
Para a instalação da usina, o governo do estado desonerou a atividade, reduzindo a cobrança do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). “Eles pagarão apenas 19% do que deveriam pagar de ICMS”, afirmou o secretário da Indústria, Comércio e Mineração do estado, James Correia.
O secretário também fez críticas à situação energética do país. “O problema da crise do setor de energia elétrica é que o consumo de energia tem crescido mais do que o país. O plano de construir hidrelétricas não se viabilizou e não vai se viabilizar do jeito que foi concebido”, disse, referindo-se às restrições ambientais e proteção a áreas indígenas. “Como a construção de hidrelétricas é cada vez mais restrita, no Brasil vamos cada vez mais precisar de outras fontes”, admitiu.
Projeto original previa receber eucalipto através de ferrovias
O projeto original da usina da ERB previa que o transporte do eucalipto, plantado em sete municípios do Litoral Norte do estado, até a planta, em Candeias, seria feito através da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). No entanto, o trecho baiano que ajudaria no transporte até a planta não está operando atualmente e será relicitado. Com isso, o transporte será feito através de caminhões em rodovias, modal bem mais poluente e que emite mais gás carbônico na atmosfera.
“Nosso projeto original foi todo focado no transporte por ferrovias, que é bem menos poluente, mas, infelizmente, não será possível nesse primeiro momento, por vontade alheia à nossa”, disse Emílio Rietmann, presidente da ERB. De acordo com o diretor-industrial da Dow em Aratu, Rodrigo Silveira, a ERB estuda reduzir o raio médio de distância dos municípios onde o eucalipto será plantado até a usina. “A ERB pretende aproximar essas plantações, hoje a um raio médio de 120 quilômetros de Candeias, passando a 80”, afirmou Silveira.
ERB já prevê ampliações e quer novas usinas no interior baiano
A planta de Candeias só deve entrar em operação oficialmente a partir de 4 de abril, mas a empresa Energia Renováveis do Brasil já cogita realizar ampliações, além de novos empreendimentos, tanto em Candeias como em outras regiões do estado, como o Sudoeste, na região da mineração, e o Litoral Norte.
A informação é do presidente do grupo, Emílio Rietmann. “São regiões de interesse. Não posso abrir muito, porque temos acordos de confidencialidade, mas estamos vendo dois ou três projetos parecidos com esse no interior”, afirmou. Com informações do Correio24