A depender da empresa, a negociação pode ser pré-definida ou negociada na hora, por chat ou telefone
“Como assim? Que feirão é esse? Eu quero!”. Foi assim que o jornalista Bruno Menezes reagiu ao saber da existência do Feirão Limpa Nome Online, que começa na próxima segunda-feira (7/4) e vai até o dia 17, em todo o Brasil. É que, após quatro empréstimos – em dois bancos – e cinco anos de juros e multas, ele acumula uma dívida de R$ 17 mil.
“Minhas dívidas são frutos de diversos empréstimos, alguns que peguei para pagar os anteriores”, conta. Um dos credores de Bruno, o banco Bradesco, participará do feirão, segundo a Serasa Experian, empresa organizadora do feirão (veja abaixo outros participantes). Através dele, será possível aos clientes que possuem dívidas com essas empresas negociar seus débitos.
“Combinamos que elas irão oferecer condições diferenciadas. São descontos e parcelamentos especiais, mas cada empresa tem a sua política”, explica Raphael Salmi, gerente de produtos de recuperação de crédito da Serasa Experian.
Segundo ele, essa é a segunda ação online. A primeira ocorreu no ano passado e teve 600 mil cadastros. “Desses, 100 mil negociaram suas dívidas, o que representa um volume de R$ 400 milhões em negociações”, conta Raphael.
Segundo ele, muitas pessoas se cadastram apenas para saber se têm dívidas e acabam descobrindo que não têm. No feirão do ano passado, a Serasa descobriu que 40% dos consumidores que tinham dívidas não sabiam que tinham, e que 60% dos que tinham não sabiam onde buscar informações sobre elas.
Para essa edição, são esperadas 1 milhão de consultas. “Bastam informações básicas, como o nome, CPF e nome da mãe. Muita gente acaba descobrindo que não tem dívidas”, explica. Para participar do Feirão Limpa Nome, basta acessar, a partir de segunda-feira, o site: www.serasaconsumidor.com.br.
A depender da empresa, a negociação pode ser pré-definida ou negociada na hora, por chat ou telefone. Ele diz que não tem como precisar os descontos ou parcelamentos que serão dados pelas empresas, mas duas regras são certas.
A primeira é que os descontos, majoritariamente, serão sobre os encargos (juros e multa), e não sobre o valor original do produto ou empréstimo.A segunda é que, quanto mais velha a dívida, melhor serão as condições oferecidas. É que quando completa cinco anos, ela sai do cadastro da Serasa, então os empresários julgam que será mais difícil que o cliente se mobilize para quitá-la.
Cuidados
Para quem, como Bruno, viu no feirão uma oportunidade de resolver sua vida, o consultor financeiro e especialista em finanças pessoais André Massaro aconselha, antes de tudo, que a pessoa saiba quanto pode pagar.
“É comum que, nesses feirões, os consumidores negociem sob pressão e façam acordos que não podem pagar depois, o que pode gerar uma nova dívida”, observa. Para saber com quanto você pode arcar mensalmente, a primeira coisa a fazer é descobrir o motivo que o levou a se endividar. “A dívida não é o problema, é o sintoma. A pessoa se endivida por dois motivos: ou porque perdeu renda (foi demitido, por exemplo) ou porque segue um padrão de consumo incompatível com o salário que recebe”.
Se for o segundo caso, explica, não adianta nada só negociar. É preciso também se reeducar para não contrair uma nova dívida.
Feito isso, calcule quanto te sobra por mês e empregue tudo na renegociação da dívida. “O importante é se livrar dela rapidamente, porque toda dívida tem um custo (as taxas) e quanto mais tempo você ficar com ela, mais dinheiro vai pagar”, explica Massaro. Perguntado se não seria perigoso comprometer toda a renda, ele é enfático. “Se no meio do caminho acontecer uma tragédia, uma eventualidade, paciência. Contrai-se um novo empréstimo. É mais importante se livrar rápido da dívida”, aconselha.
O jornalista Bruno, do início do texto, já sabe quanto pode pagar. “Com o desconto da negociação e os novos cálculos para tirar os juros em cima de juros, que são ilegais, acredito que a dívida caia pelo menos para a metade. Se for feito esse novo cálculo, posso pagar em 12 meses, quem sabe? Depende da negociação”, planeja ele, que quer se livrar dos débitos para alugar um apartamento, casar e “resolver a vida”.
Também jornalista, Raquel Correia viu no feirão uma boa oportunidade de negociar sua dívida, de R$ 2 mil, com o Santander. “Quando eu saí de meu último emprego, há um ano, não fechei minha conta, e isso acabou virando uma bola de neve”, relata.
Agora ela quer resolver o problema de uma vez. “Acho que tirando os juros e a multa já ajudaria muito. Aí, de acordo com o valor, eu parcelaria em umas quatro vezes”, planeja.
Mais importante do que planejar pagar as dívidas é planejar como vai agir depois disso, e não ver em iniciativas como a da Serasa uma oportunidade de anistia para toda vez que estiver com a corda no pescoço. O alerta é de André Massaro. “É bom ter oportunidade de quitar a dívida, mas do ponto de vista econômico pode servir como incentivo para o consumidor se comportar mal. Pessoas se endividam sabendo que vão ter uma anistia”, pondera.