Telexfree é pirâmide, diz investigação nos EUA

Por Redação
7 Min

A Telexfree é uma  pirâmide financeira que arrecadou US$ 1,2 bilhão em todo o mundo, concluiu uma investigação realizada por um órgão do governo de Massachusetts, onde fica a sede da empresa.

A investigação pede o fim das atividades do negócio no Estado, a devolução dos lucros obtidos e o ressarcimento das perdas causadas aos investidores, chamados de divulgadores.

A Telexfree americana, como ficou conhecida entre os associados, havia emergido como alternativa depois que o negócio foi bloqueado no Brasil também sob a acusação de ser uma pirâmide.

“Apresentada como uma mudança de paradigma nas telecomunicações e em anúncios, a Telexfree é meramente uma pirâmide e um esquema Ponzi [um tipo de pirâmide financeira] que tem como alvo a trabalhadora comunidade brasileiro-americana”, informa a reclamação administrativa divulgada nesta terça-feira (15) pela Comissão de Valores Mobiliários da comunidade de Massachusetts, um órgão do governo local.

O esquema permitiu que o grupo, criado pelo brasileiro Carlos Wanzeler e pelo americano James Matthew Merrill,  arrecadasse mais de US$ 1,2 bilhão em todo o mundo  “muitas vezes ganhos e economias honestas de brasileiro-americanos e outros grupos minoritários.”

Divulgação/Telexfree
Carlos Costa, um dos diretores da Telexfree, fala ao público em cruzeiro do negócio, em dezembro de 2013

Do US$ 1,2 bilhão que o grupo faturou de janeiro de 2012 a fevereiro de 2013, apenas US$ 238 milhões — ou cerca de 20% – vieram da venda de pacotes VoIP. Segundo a investigação, o financiamento do esquema Telexfree vem do recrutamento de mais gente para a rede – como num clássico sistema de pirâmide financeira – e não da venda de pacotes de telefonia VoIP, como sempre defenderam seus representantes.

Ao testemunhar à CVM de Massachusetts,  Merrill, presidente da empresa, admitiu ter pouco conhecimento sobre o sistema VoIP e nunca ter atuado no ramo das telecomunicações.

Além da fachada do VoIP, a Telexfree buscou captar recursos por meio de um projeto de construção de um Hotel na Barra da Tijuca, no Rio.

A conclusão da reclamação administrativa é que o grupo montou um esquema ilegal de investimento, com venda irregular de ativos, sob a fachada de marketing multinível – um modelo de varejo legal onde comerciantes autônomos são remunerados por trazerem outros comerciantes para a rede.

Por isso, o documento solicita que as empresas Telexfree, INC. – sede do negócio – e Telexfree, LLC – criada em 2012 – deixem de atuar em Massachusetts, prestem contas de tudo o que receberam com o esquema fraudulento, devolvam os recursos obtidos irregularmente e ressarça os investidores, e esja multada.

As solicitações serão submetidas ao Escritório de Audiências da CVM de Massachusetts, que normalmente aceita os pedidos feitos às reclamações. A análise, entretanto, não tem data para ocorrer. Os documentos também podem subsidiar investigações federais e criminais.

Além de Merril e Costa, foram apontados como pessoas relacionadas ao esquema o americano Steve Labriola e os brasileiros Carlos Roberto Costa  (sócio da Telexfree, LLC. e do braço brasileiro do negócio), Fabio Wanzeler, Lyvia Wanzeler, Sanderley Rodrigues – que foi acusado em 2006 por operar uma outra pirâmide financeira – e as empresas Ympactus Comercial (o braço brasileiro da Telexfree), Disk à Vontade e Brazilian Help.

O anúncio foi feito apenas dois dias depois de três empresas do grupo Telexfree apresentarem pedidos de recuperação à Justiça americana. As solicitações ainda não foram apreciadas.

Os responsáveis pela Telexfree ainda não responderam ao pedido de comentário feito pela reportagem. Eles sempre negaram irregularidades. A reportagem não conseguiu contatar Fabio, Lyvia e Sanderley até o momento. Um advogado da Ympactus ainda não retornou o contato.

Investigação confirma que cadastros a partir do Brasil continuaram

Merrill e Wanzeler criaram a Telexfree nos EUA em 2002,  mas o negócio só ganhou corpo após os empresários o trazerem para o Brasil. Aqui, os dois fundaram, em 2010, a Ympactus Comercial, em conjunto com o capixaba Carlos Roberto Costa.

As atividades começaram no início de 2012 e, cerca de um ano depois, cerca de 1 milhão de pessoas já haviam investido da empresa com a promessa de lucrar na revenda de VoIP e na colocação de anúncios na internet.

Em junho de 2013, o negócio foi acusado pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) de ser, possivelmente, a maior pirâmide financeira da História do País, e deu início a uma série de investigações contra empresas de marketing multinível com atuação semelhante. As contas da Ympactus e de seus sócios foram congeladas, e a empresa foi proibida de atrair novos investidores.

Mesmo após esse bloqueio, quem mora no Brasil pôde continuar a entrar para o esquema,como o iG revelou, por meio do que ficou conhecido como “Telexfree americana”.  A possibilidade foi confirmada pela investigação da CVM americana divulgada nesta terça-feira (15).

“De acordo com as informações e com o que acreditamos, a Telexfree permite a participantes no Brazil a continuar a investir dinheiro e sacar dinheiro de suas contas na Telexfree fazendo registro como participantes dos Estados Unidos”, escreveram os investigadores.

Carlos Costa, diretor da Ympactus, chegou a propor à Justiça que os divulgadores do País pudessem ser transferidos para a Telexfree americana, o que não foi aceito.

Sócios pagaram até restaurante com dinheiro dos investidores

Segundo a investigação, os responsáveis pelo negócio têm usado o dinheiro dos investidores para pagar despesas pessoais, inclusive contas de restaurantes.

Dados bancários apontam que em dezembro de 2013, Carlos Wanzeler recebeu US$ 7 milhões da Telexfree, e transferiu US$ 3 milhões para Carlos Costa. Na mesma época, outros US$ 12 milhões foram transferidos para diversas agências de investimento e US$ 1,7 milhão, para o clube carioca Botafogo, que passou a ser patrocinado pela Telexfree. IG

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