O assassinato do menino Bernardo Boldrini, cujo corpo foi encontrado no dia 14 de abril enterrado à margem de um rio em Frederico Westphalen (RS), rescendeu indagações sobre as circunstâncias e a natureza da morte de sua mãe, Odilaine Uglione, ocorrida em 2010. De acordo com a versão oficial constante do inquérito polciial, Odilaine cometeu suicídio.
Em uma carta escrita à mão e datada do dia 9 de fevereiro de 2010 – véspera de sua morte -, Odilaine pede que Leandro Boldrini, pai de Bernardo e seu marido à época, “cuide bem” do filho. Ela não menciona explicitamente a ideia de um suicídio, mas fornece elementos que deixam transparecer o que ela viria a executar no dia seguinte.
“Eu Odilaine Uglione, lúcida e consciente dos meus atos venho por meio desta carta esclarecer os motivos que me levaram a tomar esta atitude”, escreve ela na abertura da carta, em que faz referências à tristeza de viver sem família após o que teria sido um pedido de separação do marido. “Depois de 11 anos vivendo exclusivamente para minha família. Leandro, tu destruiu a minha família, meus sonhos, minha vida.”
Leia Também
“Já que me foi tirada minha família, que eu tanto sonhei em construir… prefiro partir… do que ver meu filho nas mãos de outras mulheres, meu amor em outros braços”, afirma. O inquérito apontou que Odilaine cometeu suicídio com um tiro na boca no consultório do marido.
Autoria questionada e reabertura de inquérito
Embora o conteúdo da carta componha um quadro que caminha na direção de confirmar a tese do suicídio, tal qual concluído pelas investigações, a família de Odilaine contesta a versão oficial dada pela polícia. Na última quarta-feira, 7 de maio, a defesa que representa a mãe de Odilaine e avó de Bernardo, Jussara Uglione, entregou exposição técnica em que argumenta pela reabertura do inquérito para esclarecer o que considera serem inconsistências do processo.
No tocante à carta, a argumentação sustentada pelo advogado Marlon Balbon aponta para incongruências caligráficas existentes entre a assinatura da suposta carta de despedida e a assinatura tal qual constante do documento de identidade de Odilaine. Trata-se da diferença da grafia da letra “O” e, em especial, um erro na escrita da letra “d” na carta.
O documento, entregue com pedido de vista ao Ministério Público, elenca 17 pontos, entre os quais ausências de dados e supostas incoerências de dados colhidos por ocasião da morte de Odilaine. Afora a carta, um dos principais pontos recai sobre o fato de terem sido encontrados vestígios de pólvora na mão esquerda da mãe de Bernardo, que era destra, bem como o caminho percorrido pela bala que a vitimou. Estes dados, aliados a marcas encontradas no braço de Odilaine, poderiam apontar, segundo a defesa, para a hipótese de ela ter tentado se defender de um agressor.
Na próxima terça-feira, a polícia de Três Passos irá entregar o inquérito da morte de Bernardo.
A íntegra da carta
“Três Passos, 9 de fevereiro de 2010.
Eu Odilaine Uglione, lúcida e consciente dos meus atos venho por meio desta carta esclarecer os motivos que me levaram a tomar esta atitude.
Meu pai, faleceu, minha mãe tem diversas doenças cardíacas graves que podem matá-la a qualquer momento; não tenho irmãos. Sou sozinha.
Casei com o Leandro com 21 anos, éramos pobres mesmo. Levamos 10 anos para adquirir o que temos.
Na sexta-feira dia 4/2 eu fiquei com medo de dormir sozinha e fui dormir com meu marido no hospital onde ele fazia plantão, dormimos, namoramos, ele disse que me amava e me admirava e que nunca iria me abandonar.
No domingo eu lhe pedi que largasse o plantão, pois eu tinha medo de dormir sozinha, ele então pediu a separação. Perdi meu chão.
Depois de 11 anos vivendo exclusivamente para minha família… Leandro, tu destruiu a minha família, meus sonhos, minha vida.
O que é uma pessoa sem família?
Eu cresci sem pai e não queria que meu filho passasse por isso…
Já que me foi tirada minha família, que eu tanto sonhei em construir… prefiro partir… do que ver meu filho nas mãos de outras mulheres, meu amor em outros braços…
Sem minha família não fico.
Peço Leandro, que cuide bem do nosso filho, eu estarei sempre ao lado dele.
Não precisas mais advogados pra ti ficar com a casa, carro, moto como tu queria. Fique com tudo e faça bom proveito. Já que isso é + importante que a família.
Amo minha mãe sobretudo.
Amo a Clarisa e sua família.
Cuidem bem do Bê!!!
*Favor cuidar meus tão amados animais até o fim da vida deles.
Pois eles foram meus grandes companheiros.
Fiquem com Deus.
Odilaine Uglione
09/02/2010″