Rodrigo foi preso em flagrante na segunda-feira, na casa onde mora, na Pituba.
Ele não percebeu que tinha atropelado uma pessoa”. Foi assim que o advogado Sebastian Albuquerque resumiu o que teria acontecido com o estudante de Engenharia de Produção da Unifacs, Rodrigo Valentim de Almeida Pena, 22 anos, acusado de atropelar e matar a dona de casa Cleonice Barreto de Souza, 67, no momento do acidente, domingo.
Nesta terça (27) à noite, a defesa do jovem solicitou à Justiça a liberação dele. Rodrigo foi preso em flagrante na segunda-feira, na casa onde mora, na Pituba. Desde então, está custodiado na Polinter, nos Barris.
Pelas imagens divulgadas pela polícia, o estudante, que dirigia um Hyundai i30, fugiu do local sem socorrer Cleonice – que havia saído para caminhar, na Avenida Paulo VI, na Pituba, quando foi atingida. O veículo seguia em alta velocidade, na contramão.
Contudo, ainda segundo o advogado, Rodrigo não teria ficado sem prestar socorro à vítima. “Não quero entrar em detalhes, mas ele (Rodrigo) procurou o Samu, imediatamente após perceber o que aconteceu”, explica.
Prefeita
Rodrigo é filho da prefeita de São Francisco do Conde (na Grande Salvador), Rilza Valentim, que informou, por meio de sua assessoria, que só se pronunciaria sobre o caso após receber orientação dos advogados do suspeito.
Desde o acidente, o jovem está “abatido e arrasado”, segundo explica seu advogado. “Ele estava em estado de choque, por isso, foi procurar orientação, para saber como proceder. Ele nunca teve intenção de se esquivar de nada”, diz Albuquerque, justificando o fato de Rodrigo não ter se apresentado à polícia.
“Ele é um cidadão exemplar, nunca teve uma multa de trânsito. As pessoas não devem fazer julgamentos precipitados”, sugere. Apesar de não entrar em detalhes sobre o depoimento do jovem, o advogado garante que ele não havia ingerido bebida alcóolica.
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Tristeza
De acordo com o advogado Daniel Keller, que representa os familiares da vítima, a vontade da acusação é que Rodrigo responda por homicídio qualificado. “Há um dolo eventual, com impossibilidade de defesa da vítima”. Ainda segundo ele, a família tem “fé” na Justiça.
O corpo de Cleonice foi sepultado ontem, em Itapetinga, no Sudoeste baiano, onde morava. Conhecida como Ziza, estava em Salvador há dois meses para fazer exames médicos. Com colesterol alto, costumava fazer caminhadas. Em Itapetinga, morava com uma cadela, que morreu pouco antes de vir para a capital. Mãe adotiva de quatro filhos, tinha vindo para Salvador também por estar triste com a morte do animal de estimação.
Vizinhos dizem que jovem era calado
No Condomínio Mansão Aristides Novis Filho, na Rua Wanderley Pinho, bairro do Itaigara, moradores descreveram como “uma pessoa de poucas palavras” o vizinho Rodrigo Valentim, preso em flagrante pelo atropelo e morte de Cleonice Barreto de Souza, a dona Ziza, na Pituba. Terça, pela manhã, apenas uma empregada doméstica estava no apartamento da família, no 11º andar. Através da portaria, a empregada disse que não tinha autorização para falar sobre o assunto.
A equipe do CORREIO chegou ao edifício por volta das 10h30 e permaneceu no local até as 11h45. Nesse período, as poucas pessoas que concordaram em falar com a reportagem disseram que Rodrigo é um rapaz bastante recatado. “Não era de conversar. Encontrava com ele de vez em quando no elevador e em todas as vezes era bastante calado”, disse uma moradora, que saía pela garagem. Outra senhora também foi na mesma linha e definiu o filho da prefeita Rilza Valentim como “um rapaz caladão”.
E reforçou: “Ele quase não cumprimentava as pessoas”. Ao perceberem a presença da equipe de reportagem defronte à guarita, três homens passaram a circular na área de convivência do prédio. Segundo funcionários, eles seriam seguranças da prefeita e estariam posicionados com o intuito de impedir que a reportagem não tivesse acesso aos parentes do rapaz, que está preso. Em seguida, se aproximaram da guarita e do portão que dá acesso ao local.
Questionados se trabalhavam para a prefeita de São Francisco do Conde, um deles confirmou. “Sim, trabalhamos para Rilza, mas não estamos autorizados a falar e nem a família fala”, respondeu um dos integrantes do trio. Perguntado se eram seguranças, um deles debochou: “Somos bailarinos e maquiadores dela”. Em seguida, se afastaram do portão e foram para o playground.
Aluno da Unifacs, Rodrigo era estagiário do Consórcio Estaleiro Paraguaçu, responsável pela construção do Estaleiro Enseada do Paraguaçu, em Maragojipe, também no Recôncavo.