Triste país este nosso, em que os cidadãos trabalham mais de quatro meses por ano apenas para pagar impostos e quando necessitam da contrapartida do Estado ficam desassistidos, à mercê da sorte.
Estou para perder o meu avô, S. Evandro Ferreira de Souza. Um homem de 80 anos, dos quais ao menos 70 foram dedicados ao trabalho árduo, mesmo estando aposentado, mesmo já tendo contribuído sobremaneira com o desenvolvimento da nossa sociedade.
A despeito de ter feito a “sua parte”, de forma honrada, ética e honesta, paga o preço que a maior parte da população brasileira é obrigada a suportar pela honestidade: se pobre e, consequentemente, não ter o devido atendimento da saúde pública.
Aos 80 anos, ele foi diagnosticado com Mal de Chagas. Uma doença que se fosse diagnosticada precocemente não o traria grandes transtornos. Mas S. Evandro é um brasileiro simples, honesto e pobre (a alcunha que recebem aqueles que não vivem opulentamente por não ganharem fortunas). E sendo pobre e não tendo manifestado os sintomas, jamais foi orientado a fazer exames específicos que pudessem detectar a doença.
Hoje S. Evandro se encontra num dos corredores da emergência do Hospital Geral Ernesto Simões Filho, em Salvador. Um Hospital que, a despeito da boa vontade de parte significativa dos funcionários, não é dotada da estrutura que lhe proporcionaria atender satisfatoriamente os brasileiros que, assim como o meu avô, são pobres e não podem arcar com os custos de hospitais particulares.
Passei o final de semana no Hospital Geral Ernesto Simões Filho, acompanhando meu avô. Faltam funcionários (médicos, enfermeiros e auxiliares), faltam macas (fico a me perguntar qual o custo de macas para o Estado – meu avô, e outros tantos pacientes, está numa maca “armengada”), falta espaço, faltam banheiros (na ala em que ele está tem apenas 01 banheiro para que os pacientes tomem banho), falou até lençol (que certamente deve custar uma fortuna!).
Falta também o cumprimento da Constituição Federal, do Estatuto do Idoso; faltam sensibilidade e responsabilidade por parte do nosso Estado (e daqueles que o estão a gerir – que deveriam se preocupar menos em propaganda); falta a garantia da dignidade para cidadãos (como o meu avô) que passaram a vida trabalhando, contribuindo para o Estado e que, na hora que dependem deste para a garantia de sua VIDA, ficam largados num corredor, sem especialista (no caso um cardiologista), esperando por uma semana (há casos ainda piores) para que o setor de regulação o encaminhe a uma instituição que possa efetivamente tratar de sua enfermidade.
Mais duro do que todo o quadro descrito, é ouvir dos próprios funcionários do Hospital Geral Ernesto Simões Filho (aqueles que tiveram coragem de falar) que o jeito é conseguir algum “contato” (leia-se QI – Quem Indique) junto à regulação para que o cidadão comum, como o meu avô, possa ter o devido atendimento.
E enquanto a maioria dos brasileiros aguarda ansiosamente pela copa, alguns outros vão morrendo às margens de um Estado corrupto, irresponsável e mentiroso (para ficar apenas nas expressões “politicamente corretas”).
Triste de nós brasileiros que dependemos dos serviços públicos.
Prof. Hamilton Ferreira de Assis
Educador e cidadão brasileiro
(71) 8738-9561
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