Segundo tempo de jogo entre Argentina e Suíça pelas oitavas de final da Copa do Mundo na Arena Corinthians em São Paulo e, na arquibancada norte do estádio, onde havia grande concentração de torcedores argentinos e brasileiros misturados, tensão.
Depois de uma hora trocando provocações com gritos e xingamentos, eles agora “trocam” copos arremessados de um lado para o outro, e o clima de tensão começa a aumentar.
Na parte superior daquele setor – a chamada “arquibancada temporária” – cabem cerca de 10 mil pessoas e o público ali estava bem dividido entre argentinos e brasileiros. Quase que 50% para cada lado.
Só que era ali que estavam concentrados os mais fanáticos das “hinchadas” (como eles chamam as torcidas) argentinas e, conforme o jogo foi ficando mais nervoso para o time de Messi e companhia com o 0 a 0 no placar, crescia também a irritação com o apoio dos brasileiros à Suíça logo ali, ao lado deles.
Os stewards – seguranças privados que atuam nos estádios da Copa – que ocupavam a “divisa” entre brasileiros e argentinos relataram a tensão que estava no ar.
“Esse jogo tem que acabar logo, pelo amor de Deus. Vai sair alguma briga já, já”, disse um deles à BBC Brasil.
O outro avisou: “Eu não venho mais. Não vale a pena. Olha como esses caras estão. Estamos sozinhos aqui, olha a quantidade de argentinos.”
O clima amistoso do início de jogo, com as duas torcidas se provocando “na esportiva” foi ficando tenso à medida que algumas discussões mais acaloradas começaram a ocorrer. Em todos os setores do estádio, houve relatos de pequenos problemas e até início de brigas, que precisaram da intervenção dos seguranças.
Rivalidades sul-americanas
Os episódios chamam a atenção por envolverem torcidas sul-americanas rivais. No jogo entre Colômbia e Uruguai, também pelas oitavas de final no Maracanã, as brigas chegaram às vias de fato, com torcedores trocando socos e pontapés. Um deles levou um corte no supercílio e precisou ser atendido.
Logo após o incidente no Maracanã, o Comitê Organizador Local (COL) e a Fifa foram questionados sobre a possibilidade de mudança na segurança de jogos envolvendo sul-americanos, ou sobre a separação de torcidas para esses casos.
“Consideramos que a segurança tem funcionado bem nos estádios, não estamos tendo grandes problemas, mesmo com esse costume que não é um costume brasileiro, de ter torcedores rivais misturados. Claro que numa Copa do Mundo as pessoas podem ficar com um excesso de empolgação e algo pode acontecer, mas estamos trabalhando para evitar isso”, disse o diretor de comunicação do COL, Saint-Clair Milesi.
Saint-Clair também explicou que cada jogo da Copa tem um plano de segurança que leva em conta os riscos da partida. Nele são definidos o número de stewards que vão atuar durante o jogo e como eles estarão distribuídos.
Perguntado sobre um “esquema especial” de segurança em um eventual confronto Brasil x Argentina, ele disse que não seria possível prever isso agora.
“Antes de cada partida se discute os desafios dela”, respondeu. “Então agora é cedo pra falar sobre outras medidas que podem ser tomadas, diferentes das que a gente já vêm fazendo nos estádios.”
Procurado pela reportagem para falar sobre os incidentes desta terça-feira na Arena Corinthians, o COL disse que já havia se manifestado sobre a segurança em jogos que envolviam torcidas rivais sul-americanas no último domingo e que mantinha a mesma posição.
Brasil x Argentina
Segundo o COL, para o jogo Argentina x Suíça em São Paulo foi utilizada a mesma média de stewards dos outros jogos da Copa: 900. O público, o maior da Arena Corinthians até agora (63.255) estava visivelmente dividido entre uma maioria de argentinos e brasileiros com alguns poucos milhares de suíços.
O clima de maior tensão nas torcidas veio da arquibancada temporária no setor norte do estádio. Ali, argentinos e brasileiros se dividiram – os “hermanos” tomaram conta do lado esquerdo, enquanto os brasileiros predominavam no lado direito. Alguns brasileiros com assentos no lado argentino da torcida pediram para trocar de lugar.
Na “divisão” de torcedores argentinos e brasileiros havia cinco stewards, distribuídos em pontos estratégicos pela escada de acesso às cadeiras Conforme os ânimos foram se exaltando, discussões acaloradas ocorreram e foram apartadas pelos seguranças.
“Eles (argentinos) já estão arremessando copos, já jogaram cerveja. Os brasileiros continuam provocando. Se sair gol da Suíça aqui, vai ter briga, não vai ter jeito. E a gente não tem para onde correr”, disse um steward que veio de Marília, interior de São Paulo, para trabalhar nos jogos em São Paulo.
“Eles têm que separar essas torcidas, se está assim agora, imagina em um Brasil x Argentina?”
Na hora do gol salvador do atacante Angel Di Maria, após passe de Messi, o lado argentino do setor foi à loucura. Pulando muito sobre as cadeiras e avançando na direção aos brasileiros para retribuir as provocações, os argentinos xingavam e cantavam versos ofensivos para os rivais.
A torcida brasileira, que havia provocado os argentinos ao longo do jogo com gritos pela Suíça e alguns xingamentos, nesta hora ficou quieta e “aceitou” a resposta dos “hermanos”.
Repetição de tensões
Mesmo na saída do estádio, quando os argentinos permaneceram ali cantando, os brasileiros foram deixando a arquibancada rindo para as provocações dos rivais e prevendo um futuro encontro – desta vez dentro de campo: “Nos vemos na final!”
Alguns torcedores relataram o clima de tensão naquela parte do estádio. “Estava complicado ali. Teve briga até, porque o argentino não sentava, o pessoal estava atrás pediu para ele sentar, ele não quis e aí quase trocaram socos e pontapés”, contou a senhora Sônia, que foi acompanhada da filha Cíntia para o jogo.
“Se esse gol (da Argentina) não saísse, a situação tava complicada, os stewards já estavam se concentrando para evitar algum problema”, completou.
Não foi só naquele setor do estádio que houve tensão. No setor oeste, um início de briga ao lado da tribuna de imprensa precisou ser apartado.
No setor leste, torcedores também relataram alguns problemas, discussões por causa de assentos e um clima que ia esquentando por causa da rivalidade à flor da pele.
Depois da tensão no estádio, os argentinos foram celebrar a vitória na Vila Madalena, bairro boêmio de São Paulo que tem sido a grande atração para turistas estrangeiros na cidade. Lá também houve problemas, só que desta vez envolvendo confrontos entre a polícia e torcedores.
Brasileiros e argentinos devem se encontrar nos estádios nas quartas de final, quando a seleção de Messi enfrentará a Bélgica em Brasília. Se vencerem os belgas, os argentinos farão a semifinal em São Paulo. A final será no Maracanã.
*Do Portal Terra, com informações da BBC Brasil.