Somente distante desta onda verde e amarela que contagia o país é que se pode analisar friamente a participação do brasileiro nesta que é chamada de ‘a copa das copas’. A intenção aqui não evitar contaminação com a euforia e o encanto dos torcedores com sua paixão efervescente, o futebol. É sim adquiri as características de distanciamento dos pesquisadores em relação ao seu objeto de estudo, evitando conclusões parciais e superficiais. Neste momento o que se pode perceber é o crescimento de um nacionalismo rochoso, inquebrável, incontestável. Nacionalismo fundado há poucos dias, sob a égide da propaganda veiculada em todos os meios de comunicação do país. É contagiante e dispensa questionamentos mais profundos acerca do que ele realmente significa. Existe então um mecanismo de alteridade das emoções baseado na ideia de que o futebol é, neste momento, o centro de todas as atenções, discussões, pensamentos. Há uma relação quase que de dependência entre o sujeito e a mensagem, a informação.
Entre os torcedores é possível perceber que existe uma troca de valores quase que proposital entre o que é a seleção brasileira de futebol e o que é o Brasil, país, nação. De certa maneira, pode-se afirmar que a nação Brasil está ordinariamente colocada abaixo duma construção institucional que é a seleção. O nacionalismo por aí estampado em verde e amarelo se refere muito mais ao conjunto de signos e símbolos relacionados a um grupo de jogadores disputando um campeonato mundial do que ao país, exaltado em suas belezas nas propagandas, mas sempre condicionado, em nível inferior, pelo sucesso duma coisa mais importante: o futebol. Deste modo, não há dúvidas de que a cidadania brasileira – se existe – permanecerá sufocada pela paixão ao esporte nos próximos dias. Vale ressaltar que esta confusão entre conceitos cria outras confusões, como por exemplo, o patriotismo às cegas. De repente, não há mais países no mundo senão o Brasil, que há meses atrás era incompetente, péssimo administrador, caótico.
O colunista que vos escreve citou em artigos anteriores como seria o momento de relativização da mídia brasileira envolvida voluntariamente numa espécie de torpor. A olhos vistos os informativos e noticiários desconhecem outros assuntos que não relacionados à Copa do Mundo; escolhe-se antes noticias periféricas ao tema central do agendamento. Foi desta maneira que a mídia transformou o país numa onda verde e amarela, que, se respira, é do mesmo ar da coletividade. Coube à propaganda, braço forte das campanhas de adesão, determinar o abrandamento do descontentamento das pessoas – quando houve – em relação ao evento. Bastava simplesmente mexer com a emoção, atribuir um valor fundamental à ideia de brasilidade, patriotismo, de amor à seleção e ao país. Aos poucos, como eu disse anteriormente, os protestos cessariam, o convencimento venceria a vontade de se rebelar e as instituições públicas, envolvidas até o pescoço na ideia da copa, insistiriam numa palavra chamada paralisação; paralisados, os brasileiros poderiam assistir aos jogos, poderiam ser mais brasileiros do que nunca.
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É extremamente difícil entender qual será o caminho do Brasil e dos torcedores, segundo o desfecho da seleção de futebol neste mundial. Baseando-se em prognósticos e análises sociais, sendo o Brasil campeão ou não, pouca coisa poderia mudar no cenário desta idolatria nacional, afinal, ela independe de uma conquista para chegar à sua conclusão. O fim da copa ou da participação brasileira decretará o encerramento deste nacionalismo intocável. Haverá um retorno às atividades rotineiras, como que o acordar de uma noite de sonhos. Voltarão os resmungos, as críticas à política, discussões sobre o que houve de errado no evento e que as coisas não deram tão certo assim. Caso vença o Brasil, a conquista dará a este nacionalismo alguns meses de sobrevida, influências na política e na sociedade, nada tão previsível. Dada a provisoriedade da disputa, que chegará ao fim em 13 de Julho, pode-se compreender, empiricamente, o quanto os sentimentos brasileiros são condenados à efemeridade.