“Se para quem não disputa a taça esse título pouco vale, para o Galo ele vale, e muito, pois é a quarta taça internacional que vai para a sua galeria”
Se para quem não disputa a taça esse título pouco vale, para o Galo ele vale, e muito, pois é a quarta taça internacional que vai para a sua galeria de troféus: duas da Conmebol, que o Atlético precisa aprender a valorizar; a Libertadores do ano passado e, agora, a Recopa. Se as coisas não vão tão bem em nível nacional, na esfera internacional o Galo mostra sua força e tradição. Ainda é o dono da América, já que a Libertadores deste ano não acabou.
Mais uma vez, o técnico, Levir Culpi, tirou Ronaldinho Gaúcho para a entrada de Guilherme. R10 saiu furioso, se dirigiu ao vestiário e balançou a cabeça, negativamente. Desta vez, Guilherme entrou mal e não disse a que veio. Acho que o amor de R10 pelo Galo não vai acabar, mas sua passagem pelo clube parece mesmo estar chegando ao fim. Realmente, ele não jogou nada nesta temporada, mas merece ser respeitado por ter dado ao Atlético o título mais importante de sua história, e por ser ídolo maior da torcida. Ele não foi criado no Galo, mas é como se fosse, tamanha sua identificação com os torcedores. Porém, o que importa é que o Atlético é o novo dono da Recopa e sua fanática torcida vai comemorar muito, a exemplo do que fez ano passado, na Libertadores. É campeão, de fato e de direito.
Divisões de base Depois do fracasso do Brasil na Copa, com o maior vexame de sua história, a goleada de 7 a 1 para a Alemanha, descobriram que o futebol brasileiro está no fundo do poço e precisa de solução urgente. Há tempos diagnostiquei isso e não me canso de repetir: o maior problema está na base dos clubes, maltratada e entregue a pessoas sem escrúpulos. No passado, quem cuidava delas entendia do riscado: Zé das Medalhas no Atlético, Carlinhos no Flamengo, Cilinho no São Paulo… Hoje são empresários e amigos de dirigentes, sem noção do que se passa. Querem mais é entregar os garotos para que os agentes os vendam e dividam o lucro com eles. Vergonha, que tem a aquiescência da maioria dos presidentes. Enquanto dirigentes e empresários estão cada vez mais ricos, os clubes se encontram falidos, com dívidas astronômicas e sem material humano de qualidade.
Grandes times sempre foram formados pelas categorias de base. Até hoje o torcedor se orgulha do Atlético de Cerezo e Reinaldo. O rubro-negro se orgulhava de Zico, Adílio, Andrade, Leandro, Júnior… Hoje, garotos bons de bola são negociados ao exterior sem consolidar o amor à camisa. Mais grave: baixinhos quase não têm vez. Os pseudo-treinadores da base só querem meninos altos, desengonçados e sem qualidade. De norte a sul do país, numa promiscuidade só, com a ciência dos presidentes, salvo raras exceções.
Já passou da hora de o Ministério do Esporte intervir. Os clubes são tidos como entidades privadas, mas seus dirigentes deveriam ter responsabilidade fiscal, pois gastam o que não têm, contratam ex-jogadores em atividade pagando salários irreais e vão embora deixando uma conta gigantesca. Deveria haver uma forma de fiscalização que desse poderes à Justiça para abrir processos e condenar tais cartolas por uso indevido do dinheiro.
Não adianta tapar o sol com a peneira. Há muito sabemos que cartolas negociam com empresários e dividem entre eles o lucro da comissão dos agentes. Não se prova porque geralmente a verba é dividida no exterior e depositada em contas pessoais. Nosso futebol é também reflexo de um país corrupto. Tudo pode. Jogadores têm status de celebridades, cartolas posam para fotos com pobres torcedores. Deveríamos ter pessoas comprometidas com o futebol de verdade, que cuidassem das categorias de base como se cuida de um filho. A Alemanha tem dado grande exemplo de seriedade na formação de atletas, fazendo o que fazíamos antigamente. Para muitos, é novidade, porque há tempos nossa base está sucateada. Basta vontade política, dirigentes sérios e atenção maior à garotada para resgatar o que se perdeu.