Sequestrador diz que comparsa matou Ricardo Melo com paulada.
A ideia era obter R$ 300 mil e fugir do Brasil, mas deu tudo megaerrado nos planos de Paulo Roberto Gomez Guimarães Filho, 34 anos, o Paulinho Mega, apresentado nesta segunda-feira (9) na sede da Polícia Civil, na Piedade, como principal suspeito do sequestro e assassinato do advogado Ricardo Andrade Melo, 37, que estava desaparecido há mais de quatro meses. Junto com ele foi apresentado e igualmente indiciado pelos mesmos crimes Arivan de Almeida Morais,comparsa que teria executado o advogado, com uma paulada na cabeça.
Paulinho Mega confessou à polícia ser o mentor do sequestro para conseguir dinheiro e viajar. O motivo da fuga, segundo ele, foi sua condenação, em abril deste ano, a 22 anos de reclusão pelo assassinato, em fevereiro de 2003, do administrador Carlos Alexandre Rodrigues, então com 35 anos, outro vizinho de Mega, mas no bairro da Graça.
O homicídio ocorreu em um motel de Patamares, e Mega também contou com a ajuda de comparsas. Apesar da aparente reincidência no caso do advogado, Mega nega participação na execução de Ricardo e atribui a ação a Arivan.
Prisões
A investigação foi realizada pelo Centro de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil, que, ao identificar o paradeiro de Mega, contou com a colaboração da Polícia Civil de São Paulo para cumprir o mandado. Paulinho foi preso na sexta-feira, junto com o pai, Paulo Roberto Gomez Guimarães, 66, em um hotel no centro da capital paulista. O pai dele teve prisão temporária decretada por 30 dias para que a investigação não seja prejudicada.
Já Arivan foi capturado no domingo, no bairro de Pirajá, onde mora. No mesmo dia, com base nos interrogatórios, a polícia localizou o corpo de Ricardo numa cisterna, a poucos metros do cativeiro, um casebre nos fundos da Bahia Paletes, fábrica de paletes situada atrás da Colônia Penal Lafayete Coutinho, no bairro de Castelo Branco.
À frente da apuração, o diretor do COE, delegado Cleandro Pimenta, disse que a polícia já suspeitava que Mega buscava dinheiro para fugir. Uma semana depois de ter tido a prisão decretada, o sequestrador e o pai passaram a morar de aluguel em um apartamento no primeiro andar do Victória Loft, no Corredor da Vitória, onde eram vizinhos de Ricardo Melo, que morava com a mãe, Miriam Andrade.
Dez dias após se conhecerem no píer do prédio, Mega e o vizinho conversaram sobre hobbies, oportunidade em que Ricardo falou sobre sua paixão por automobilismo e a intenção de comprar uma lancha. “Ele viu Ricardo ostentando, dizendo que ganhou R$ 300 mil de uma causa, que ia comprar iate, e viu nisso a chance de fugir para Bolívia ou Argentina”, revela Pimenta.
Planejamento
Paulinho Mega teve então a ideia de sequestrar o vizinho, porém, sabia que sozinho tinha poucas chances de sucesso. Assim, contou com ajuda de Arivan, ex-presidiário, que cumpriu pena com ele na Lafayete Coutinho – após ter sido preso em Mato Grosso por tráfico, a família de Mega consegui transferi-lo para Salvador, onde cumpria pena em regime semiaberto.
Arivan chegou a ir duas vezes no Victória Loft tratar com Paulinho, que por sua vez também o procurou em Pirajá. Com isso, o motivo do sequestro, iniciado em 29 de abril, aniversário de Ricardo, foi o convite de Mega para que o advogado fosse com ele a uma concessionária, onde pegaria seu novo carro, um Maserati.
Mega explicou a Ricardo que, antes disso, passaria em Pirajá, para buscar um mecânico que avaliaria o possante, mas era uma emboscada. “Ricardo saiu com Mega acreditando que voltaria dirigindo a Cherokee e que, quando chegasse na BR-324, Paulinho encontraria Arivan, que seria um mecânico para conferir o carro, que contou ser de segunda mão”, relata Pimenta.
Após entrar, dois minutos depois, Arivan rendeu o advogado com uma arma. “Ricardo ainda tentou negociar. Falou que tinha R$ 300 mil, que pagaria a quantia, mas não convenceu, e foi levado para a Bahia Paletes. Arivan amarrou Ricardo e Paulo saiu com o cartão dele para fazer saques”, relata o delegado. Por dois dias, Mega tentou retirar dinheiro em terminais eletrônicos, mas sem sucesso.
“O problema é que o cartão já estava bloqueado, porque Ricardo, em outra situação, errou a senha”, diz Cleandro.
Resgate
No terceiro dia, Mega ligou para Miriam Andrade e pediu R$ 300 mil, dando o número da conta de uma criança, filha dele. Logo depois, viajou com o pai para São Paulo, de onde seguiria tentando negociar o resgate. Passados sete dias, ligou para Arivan e disse que, até aquele momento, a quantia não havia sido depositada. “Foi aí que, segundo Mega, Arivan disse: ‘Já era. Você nunca me conheceu, nunca me viu’. A partir daí, Paulinho disse que Arivan poderia ter matado Ricardo”, conta o delegado.
Arivan deu versão diferente. “Disse que matou Ricardo nas primeiras 48 horas. Primeiro disse que não. Depois, quis trazer Paulinho para a execução, que Mega teria ajudado a ocultar o cadáver na cisterna”, diz Pimenta. No entanto, o diretor do COE considera a versão do mentor intelectual do crime mais verossímil.
“Em todos os depoimentos, Mega não entrou em contradição. Já Arivan, além de se contradizer, não dá detalhes”, explica. Ainda conforme o delegado, mesmo que o resgate fosse pago, a vítima não seria devolvida, pelo menos imediatamente. O plano da dupla era continuar as chantagens, para que o resgate chegasse a R$ 2 milhões – R$ 1 milhão para cada.
Corpo em cisterna passará por exames
Corpo achado em cisterna passará por exames para atestar identidadeApesar das evidências, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) ainda não confirmou se o corpo encontrado no final de semana em uma cisterna, em Castelo Branco, é do advogado Ricardo Andrade Melo, sequestrado em 29 de abril, dia em que completava 37 anos.
De acordo com a assessoria de comunicação do órgão, o corpo que está no Instituto Médico-Legal (IML) ainda é considerado de “identidade ignorada” e, como procedimento nestes casos, deve passar por exames para identificação. A confirmação da identidade deve ocorrer através de exame de DNA, mas o DPT ainda não descartou outros procedimentos de rotina.
O primeiro passo, no protocolo que costuma ser seguido, é a análise das impressões digitais, o que deve ser improvável por conta do estado de decomposição do corpo, que pode ter ficado durante meses na cisterna. O DPT deve ainda buscar informações da arcada dentária, antes de um exame de DNA, confrontado com material genético de familiares.
De acordo com o delegado Cleandro Pimenta, do COE, o corpo que pode ser o de Ricardo foi localizado em estado de putrefação, que se trata de um avançado estágio do processo de decomposição. Prazos para a liberação do corpo e da conclusão da perícia não foram divulgados pela assessoria do órgão – que não localizou os peritos responsáveis.
Correio