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Articulações para o novo ministério estão a todo vapor

Dilma Rousseff viajou na quarta-feira, 29, para descansar por quatro dias da exaustiva campanha da reeleição. Refugiou-se na base naval de Aratu, na Bahia, estado que lhe deu 5 milhões de votos. Na Baía de Todos os Santos, perto do governador Jaques Wagner, petista em ascensão e rumo a Brasília, a presidenta refletiria sobre a vitória apertada e começaria a amadurecer ideias para o novo ministério. A montagem da equipe será mais importante do que no início do primeiro mandato. Mostrará se de fato ela entendeu o recado das urnas e está disposta ao diálogo. Dilma levou na cabeça alguns planos. E teria de preparar bem o espírito para aquela que considera “a” escolha de seu próximo governo, o ministro da Fazenda.

O favorito é o economista Nelson Barbosa, número 2 na pasta até junho de 2013. Há só um problema. No Instituto Lula viceja a defesa de um representante empresarial, para facilitar a reconstrução de pontes com o setor. Logo após o triunfo no domingo 26, os lulistas fizeram circular uma sugestão ousada, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. Quando soube, um ministro comentou em voz alta que a carta tinha saído da manga de Lula. Uma ideia lançada para influenciar os pensamentos de Dilma no retiro baiano, pois logo ela se sentará com o antecessor para conversar a respeito da escalação do novo time.

A presidenta recebeu a sugestão com perplexidade, pelo que se ouve no Palácio do Planalto. Ela gosta de Trabuco, a quem já recepcionou no gabinete, e o Bradesco nunca se engajou na campanha contra o governo desencadeada no mundo do dinheiro. Mas como nomear um banqueiro, pergunta-se no Planalto, após a campanha dilmista ter amaldiçoado Neca Setubal, apoiadora de Marina Silva, e Arminio Fraga, aliado de Aécio Neves? Sempre é possível minimizar as contradições entre o discurso de campanha e a prática da governabilidade. Trabuco formou-se em uma faculdade de filosofia e fez pós-graduação em sociopsicologia. Comanda um banco mais afinado com a clientela de baixa renda e não é dono da instituição. Insuficiente, porém, para impedir Dilma de dar um sinal de rendição. Na visão do Planalto, além do PSDB, as urnas derrotaram o mercado financeiro.

Dilma acredita ainda que sua afinação com Barbosa seria mais fácil, pois os dois trabalharam juntos, o que aceleraria a tomada de decisão em uma área vital. Por orientação dela, o economista foi sondado há alguns meses para voltar a Brasília. Gleisi Hoffmann, então chefe da Casa Civil, convidou-o para ser seu braço direito. Barbosa não aceitou, por antever a mesma situação que o levara a demitir-se da Fazenda, o choque com o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Preferiu dar aulas e colaborar com o Instituto Lula.

Com ou sem Barbosa, Augustin deixará o cargo, por si só um calmante injetado na veia do mercado. Ele personifica a criticada “contabilidade criativa” que maquiou as contas públicas. Antes das férias, a presidenta autorizou a equipe a planejar um corte considerável de gastos em 2015, a fim de melhorar as finanças estatais. Em outro gesto capaz de agradar ao mercado, o Banco Central voltou a subir o juro. A taxa estava em 11% desde abril e foi a 11,25%, recorde mundial. É como resumiu um ministro sobre o segundo mandato: o governo virará à direita na economia para tentar ir à esquerda no social.

Se resiste a colocar um banqueiro na Fazenda, Dilma estaria inclinada a convidar dois empresários para postos estratégicos na relação com o setor privado. O industrial Josué Gomes da Silva deve ir para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e a ruralista Kátia Abreu para a Agricultura. Ambos são do PMDB e concorreram ao Senado, mas só ela venceu. Durante a disputa, o mineiro Gomes da Silva foi convidado por Dilma, mas optou por seguir na eleição. Queria repetir o falecido pai, José Alencar, vice de Lula. Há, porém, um conflito de interesses que ainda precisa ser resolvido pelos juristas de plantão. Ele é dono da Coteminas, empresa da qual é sócio o BNDES, banco de fomento subordinado à pasta que o empresário comandaria.

Não há entraves do tipo a atrapalhar a designação de Kátia Abreu. Só a ira de movimentos ligados às causas indígenas e à reforma agrária. A senadora pelo Tocantins comanda a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária e acaba de renovar o mandato por mais três anos. Como todo bom líder do campo, não vê motivo para demarcar terras indígenas ou quilombolas, nem para fazer novos assentamentos. Mas ela se dá bem com Dilma e a presidenta precisa de um melhor trânsito no agronegócio, principalmente depois do boicote do setor e de estados produtores na eleição.

A indicação dos empresários, se confirmada, repetiria uma fórmula do início do governo Lula que tem sido citada como referência da nova gestão. Seria uma prova do prometido diálogo. Também a exemplo do primeiro mandato de Lula, o futuro primeiro escalão terá mais peso político. É uma questão de sobrevivência. Para lidar com o mais fisiológico e conservador Congresso em décadas e com o rancor da oposição, fortalecida pela votação apertada, só com auxiliares experientes. Estão bem cotados o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, do PSD, e o governador do Ceará em fim de mandato, Cid Gomes, do PROS.

Antes de negociar com os partidos, Dilma vai resolver pendências da “cozinha” do Planalto. Ela pretende ter como secretário-geral da Presidência o gaúcho Miguel Rossetto, um de seus porta-vozes na campanha. Sindicalista e próximo dos sem-terra, Rossetto assumiria as negociações com os movimentos sociais, função desempenhada até agora por Gilberto Carvalho. Ligado a Lula, Carvalho gostaria de permanecer no governo e aceitaria outro cargo.

Quanto à Casa Civil, Aloizio Mercadante tende a permanecer. Depois de nove meses de convívio, avalia-se que o ministro deu conta de gerenciar o governo e conquistou a confiança da presidenta. Em conversas reservadas, o economista revela o desejo de continuar no posto, embora tenha sonhado com a Fazenda (atualmente defende a solução “Nelson Barbosa”). Os óbices? Mercadante não tem o apreço de Lula e de grande parte do PT. É descrito como excessivamente individualista e pouco conciliador, características não recomendadas para o cargo. Paira, neste caso, o espectro de Jaques Wagner.

O governador da Bahia é candidato a protagonista na segunda gestão Dilma. Elegeu um “poste” como sucessor no primeiro turno e acaba de garantir 70% dos votos à presidenta no quarto maior colégio eleitoral do País. Tem o apreço da mandatária, com quem dividiu o primeiro escalão de 2003 a 2006, e do ex-presidente. Lula não ficaria nada triste em vê-lo na Casa Civil, com seu estilo negociador a compensar o pouco jogo de cintura de Dilma. Nem Wagner, que dá sinais de cobiçar o cargo, mas o faz em segredo, para não chatear Mercadante. Um outro desfecho depende do tête-à-tête entre Dilma e Lula. Mesmo se não ocupar a Casa Civil, Wagner certamente terá um posto destacado.

A vitória apertada no domingo 26 abre espaço para Lula influenciar os rumos do novo governo. Sem o ex-presidente nas ruas na reta final da campanha, o resultado provavelmente teria sido outro. Sua presença se tornará constante a partir de 2015, revela um conselheiro, mesmo se a aproximação gerar atritos com a sucessora. Lula está convencido da necessidade de regulação econômica das emissoras de tevê e rádio e vai defendê-la. Dilma afirma apoiar a proposta, mas no início de seu primeiro mandato engavetou o projeto elaborado pelo ministro Franklin Martins no fim do governo Lula. Se Ricardo Berzoini for deslocado das Relações Institucionais para as Comunicações, haverá boas chances de prosperar o novo marco regulatório, necessário por causa das mudanças tecnológicas e do avanço da internet. O desenlace deve ser rápido, pois o tempo não está ao lado da presidenta.

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