Enquanto a torcida ainda alimentava um fiapo de esperança na permanência na Série A, a dupla Ba-Vi estava muito bem preparada para o pior.
No Vitória, a diretoria finalizou o ano no melhor estilo pastelão, com direito a camisa confeccionada antecipadamente com os dizeres: “Meu amor pelo Leão não tem divisão”. Nem eles acreditavam. Uma camisa que premiava o fracasso foi o estopim do ano sem nenhuma conquista, só desilusão.
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O Bahia não chegou a tanto. Porém, também já tinha o discurso pronto, exibindo motivos que poderiam camuflar o rebaixamento. Há duas semanas, o clube vem divulgando uma publicidade de título “Para Além do Futebol”, na qual exibe conquistas que compensam fracassos dentro de campo.
No Vitória, além da camisa, o atual presidente, Carlos Falcão, pediu a palavra logo após a derrota para o Santos anteontem e, ‘sem querer querendo’, exibiu motivos que prejudicaram o planejamento e, consequentemente, motivaram a queda. O Esquadrão, com entrevistas e publicidades ao longo de 2014, não ficou tão atrás.
Entre as justificativas, Bahia e Vitória reclamaram de três coisas em comum. A maior queixa foi a falta de verba para investir no time. A cota de TV dos baianos é bem menor do que a dos principais clubes brasileiros. O Tricolor também argumenta que precisou usar parte do orçamento para pagar dívidas antigas.
Problemas como dinheiro não foram motivos para o fracasso. Em 2014, a renda bruta do Bahia ultrapassou os R$ 70 milhões, enquanto o Leão chegou aos R$ 65 milhões. A verba foi bem superior à de clubes que permaneceram na Série A, como Figueirense e Chapecoense. Essa justificativa caiu por terra.
Quanto ao time sem comprometimento, a responsabilidade recai também na direção dos clubes, responsável pelas contratações. No Bahia, precisou Charles informar, após o rebaixamento, que atletas “covardes e não-profissionais” estavam fingindo contusão para não jogar.
Contudo, fica o questionamento do motivo de isso não ter vindo à tona em tempo. Veteranos como Léo Gago, Marcos Aurélio e Maxi Biancucchi eram vaiados desde julho pela torcida, que os queria fora do time. No Vitória, o técnico Ney Franco desmentiu Falcão ao alegar que o clube não teve problemas de indisciplina e que seus atletas deram o seu melhor.
O presidente do Vitória ainda citou erros capitais da arbitragem que prejudicaram a permanência do clube. O do Tricolor, ainda durante o campeonato, declarou: “Sofremos perseguição da CBF. Arbitragens são escolhidas a dedo para prejudicar o Bahia”.
Controversas
Falcão aponta mais três motivos que causaram o fracasso vermelho e preto. O cartola alegou que o Vitória perdeu ao não jogar no Barradão, em reforma para a Copa no primeiro semestre. O problema é que o Rubro-negro teve a pior campanha nos últimos 10 anos no seu estádio. Em 15 jogos, 48% de aproveitamento.
Segundo Falcão, o maior trunfo era renovar com boa parte do elenco de 2013. Mas, na escalação da última rodada, só Cáceres tinha atuado na campanha do 5º lugar do ano passado.
Falta de sócios foi uma verdade. Mas, com um clube fechado para votação direta e sem grandes atrativos, é impossível ultrapassar a marca de 7 mil.
Desculpas e ‘mea culpas’
No Tricolor, o presidente comentou que as constantes trocas de diretor de futebol prejudicaram o trabalho a médio prazo. Fora que, em um ano e três meses de gestão, era impossível ajustar o Bahia completamente.
Schmidt falou que, no fim de 2013, não manteve Anderson Barros porque o diretor de futebol apontava problemas e preparava um planejamento para 2014 assumindo o risco de rebaixamento e pensando num time forte só em 2015.
O tempo mostrou que Barros tinha razão. E, com sua saída, o departamento de futebol teve quatro diretores em um ano. A falta de visão de futebol foi, portanto, da própria diretoria. Tanto que Schmidt reconheceu que Charles deveria ter sido efetivado como treinador desde agosto.
Por fim, a gestão atual apresenta a conquista do Baiano de 2014 como um feito e um sinal de que seu futebol tinha qualidade. A taça, todos sabem, foi obtida sobre um Vitória tão debilitado e rebaixável quanto o Bahia.