Se para muitas pessoas uma mudança radical se resume a um corte de cabelo ou a troca nas peças do guarda-roupa, para Antônio Vasconcelos Santana Neto, 28 anos, o divisor de águas foi a entrada em uma universidade particular sem ter que desembolsar um vintém. Isso foi possível depois da abertura do sistema de bolsa em instituições de ensino privadas para jovens de baixa renda, o ProUni.
Antônio cursou Administração na Universidade Salvador (Unifacs), mas a mensalidade de R$ 956,80 foi custeada pelo governo federal. Formado, ele hoje exerce a função de analista de finanças na Global Engenharia e o seu trabalho lhe proporcionou a compra de um apartamento, um carro e uma viagem ao exterior.
A graduação em Administração é vista como um dos filés do mercado de trabalho pelos analistas em recursos humanos, por proporcionar uma ascensão mais rápida do que outras áreas e por ser um curso abrangente.
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“Administração é número um em quantidade de vagas, porque é um curso que abrange tudo: setor administrativo, marketing, finanças, RH, área comercial… Dá para conseguir estágio logo no primeiro semestre”, diz a diretora da Oportunidade RH, Rafaela Oliveira.
A presidente da Associação Brasileira de RH, seccional Bahia (ABRH-BA), Ana Cláudia Athayde, concorda. “Na Bahia, há um certo conservadorismo em algumas empresas por serem familiares e alguns cursos são muito procurados, como administração”.
O diretor da Organiza RH, Márcio Lopes, no entanto, discorda dos colegas: “Administração é o curso que você faz quando não sabe o que quer fazer. Abrange muita coisa e acaba não te preparando para nada”, opina.
Mas ele concorda com os colegas quanto à alta das profissões ligadas a tecnologia. “Com o desenvolvimento dos tablets, smartphones, e até o desenvolvimento de jogos para treinamento e capacitação profissionais, o mercado vai precisar muito desses profissionais”, analisa.
“Toda a área de informática tem muita demanda, mas o estudante precisa se qualificar, se atualizar. Não adianta só fazer o curso e ficar parado”, aconselha Rafaela.
Mudança
Ao olhar para trás, Antônio não esquece o ano de 2005, que ele considera o mais difícil de sua vida. Na ocasião, quando morava em Feira de Santana, a 108 quilômetros de Salvador, precisou abandonar uma faculdade particular porque não tinha R$ 500 por mês.
“Estava desempregado. Foi difícil. Mas em 2006, a situação mudou. Fui contemplado com a bolsa. Posso dizer que foi uma mudança radical em minha vida”, declara ele, que terminou o mestrado em gestão de projetos e já pensa em iniciar outro em gestão financeira.
Antônio hoje está casado, tem um apartamento em Lauro de Freitas, um carro e já viajou pela empresa que trabalha para aprimorar o inglês nos Estados Unidos.
Outros cursos
Outra área bastante promissora, segundo os especialistas, é a de petróleo e gás, assim como qualquer graduação que esteja ligada ao “ouro negro”. “A cadeia produtiva do petróleo vai levar um tempo em alta”, acredita Márcio Lopes.
Mas, quem não quiser inovação, pode ficar tranquilo, porque cursos tradicionais como Direito, Medicina e Ciências Contábeis devem continuar em alta por um bom tempo, de acordo com quem conhece o mercado.
“Apesar de os estudantes de Direito estarem querendo, cada vez mais, virar funcionários públicos, existe um espaço muito grande para advogados e contadores, porque cada vez mais se está exigindo o aperfeiçoamento da parte legal das empresas”, explica Lopes.
Sobre o curso de Medicina, ele lembra que apesar de ser muito rentável a longo prazo, o estágio demora a acontecer, muitas vezes é sem remuneração e, antes de começar a ganhar dinheiro, o estudante precisa fazer residência, especialização… “É uma carreira que demora mais para ganhar dinheiro”, diz.
As engenharias também são bem cotadas entre os consultores. Segundo eles, há muito espaço no mercado de trabalho para as áreas de Mecânica, Elétrica e Ambiental, além da Civil. Se a graduação for cursada com uma bolsa, então, melhor ainda.
Bruno Wendel e Priscila Chammas