Em alguns casos, a permanência aconteceu mesmo com aumento de crimes, como tentativa de homicídio, na área de atuação do delegado.
Bruno Wendel
Enquanto muitos delegados estão às voltas com a mudança de unidade – após as exonerações e nomeações realizadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) nos dias 22 de fevereiro e 3 de março – um grupo permanece intocável.
A SSP justifica que as mudanças tinham a intenção de “oxigenar” a atividade dos delegados. Aos que ficaram, restou a comemoração pela permanência. Ou não. Apesar da manutenção, algumas delegacias onde os titulares ficaram tiveram aumento de índices de violência na área em de abrangência, comparando 2011 com 2012.
Ao todo, houve 52 trocas nas delegacias e coordenações da Polícia Civil no estado. Em Salvador, seis das 15 delegacias territoriais continuam com o mesmo titular: a 6ª DP (Brotas), chefiada por Maria Dail Sá Barreto; 8ª DP (CIA), da titular Ligia Maria Costa; 10ª DP (Pau da Lima), comandada por Carlos Habib; 14ª DP (Barra), com João Cavadas; 16ª DP (Pituba), sob o comando de Nilton Tormes; e a Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), onde atua a delegada Claudenice Mayo.
Já na Região Metropolitana permaneceram Joelson Reis, da 23ª DP (Lauro de Freitas), Adailton Adan, da 22ª DP (Simões Filho), João Miranda Pitom, 25ª DP (Dias D’Ávila) e Maria Selma Lima, da 17ª DP (Madre de Deus).
De acordo com o titular da SSP, Maurício Barbosa, pelo menos a curto prazo, estes delegados não correm o risco de mudarem de unidade. “A priori, não temos mais mudanças. O objetivo das mudanças é dar novo ânimo e aproveitar competências adquiridas em áreas com maiores índices de criminalidade”, argumentou.
Cavadas é o titular da delegacia da Barra; Tormes coordena delegacia da Pituba e Habib, titular no Pau da Lima
Índices
No comando da 6ª DP, Maria Dail atribui sua permanência ao trabalho de equipe. Do seu grupo de agentes e investigadores, dez lhe acompanham há 13 anos.
No entanto, os dados da SSP, disponibilizados no site da instituição, apontam um crescimento na área das tentativa de homicídios, crime investigado pelas delegacias territoriais. Foram 44 em 2011 e 59 em 2012.
Desde 2011, a investigação dos assassinatos fica sob a responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). "Tenho uma equipe coesa. Nosso serviço de investigação conhece todos os bandidos dos locais mais perigosos, como Cosme de Farias e Engenho Velho. Reduzimos a criminalidade”, avalia a delegada.
Joelson cuida de Lauro de Freitas; Maria Dail, titular da delegacia de Brotas e Adailton Adan, de Simões Filho
Na 8ª DT (CIA), cuja titular é a delegada Lídia Maria Costa, os números de tentativa de homicídio indicam um salto na violência: foram 30 em 2012 contra dois em 2011. A delegada não foi localizada para comentar sua permanência.
Já a 16ª DT (Pituba), apresentou redução significativa nas tentativas de homicídio. Enquanto em 2011 foram registradas 138 ocorrências, no ano passado foram contabilizadas apenas seis.
Na avaliação do delegado Nilton Tormes, o resultado é um reflexo do trabalho de investigação. “Reduzimos as ocorrências e essa permanência é fruto dos resultados”.
No site da SSP, não há dados das delegacias da Região Metropolitana, nem das das especializadas. As informações de 2011 da 14ªDT (Barra) também não estão no ar, impossibilitando o comparativo.
Adailton Adan, titular da 22ª DP, em Simões Filho, cidade com maior índice de homicídios dos país, segundo o Mapa da Violência do Ministério da Justiça, vê evolução no trabalho da delegacia.
“Estou aqui há sete meses. Houve uma redução de homicídio de 50% entre janeiro e fevereiro deste ano. Em novembro e dezembro de 2012 também tivemos queda”.
João Pitom, titular de Dias D’Ávila, também comentou sua permanência: “Estou há quase dois anos na região e atendemos às estatísticas. Isso não quer dizer que os outros delegados não tenham atendido. Foram critérios da cúpula para oxigenar delegacias”.
Recordista
Há seis anos à frente da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), Claudenice Mayo acredita que a sua permanência no cargo se dá pela experiência que tem no trabalho com menores. “Antes da DAI, fui titular da Delegacia de Repressão dos Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derca)”, diz.
Segundo o delegado-geral Hélio Jorge, as substituições foram necessárias para que os profissionais possam desenvolver habilidades em diferentes áreas. “Assim é possível aproveitar numa unidade os conhecimentos adquiridos com outras equipes ou em outras funções”, concluiu. Colaboraram Luana Ribeiro e Thaís Mascarenhas.
Especialista vê benefícios e prejuízos em permanência
“Muito tempo no cargo pode provocar uma acomodação dos profissionais na execução das tarefas”. Essa é a opinião do coronel Antônio Jorge Ferreira Melo, professor e pesquisador do Programa de Gestão e Estudo de Segurança Pública da Unifacs, quando se refere à permanência de delegados à frente das unidades policiais.
No entanto, o coronel, que também é coordenador do curso de Direito da faculdade Estácio/FIB, reconhece que há um lado positivo nessa permanência. “O delegado que fica muito tempo na área acaba tenho um amplo conhecimento da região, o que facilita as investigações”, pontua. A Secretaria de Segurança Pública indica que as mudanças nos postos das delegacias têm como principal objetivo a oxigenação do trabalho, com a intenção de reduzir os índices de criminalidade na área. Para o especialista, as mudanças podem ter outras explicações, mais subjetivas. “Tanto o secretário de segurança quanto o delegado-geral podem fazer as trocas por preferências pessoais com relação ao trabalho de determinado delegado. Para cargos assim, conta também a questão da confiança”, opina.
O coronel indica que nessas delegacias onde não houve troca de delegado há um benefício no andamento dos inquéritos policiais. “Nas outras delegacias, onde teve troca, pode haver um impacto no andamento das investigações”, diz.
Para Antônio Jorge Melo, a saída ou permanência do delegado não são suficientes para reduzir a criminalidade. “Não adianta trocar o técnico se não mexer nos jogadores. É uma questão de um time funcionar bem, igual ao futebol. Tem que alterar nas posições estratégicas da delegacia também”, pontua.
Figueiredo saiu da Narcóticos para Homicídios e Gallas deixou DHPP depois de dois anos no cargo
Delegados da cúpula foram os primeiros trocados
As mudanças na gestão da segurança pública este ano começaram com alterações na cúpula da Polícia Civil, que aconteceram no dia 22 de fevereiro, com a publicação de nomeações e exonerações no Diário Oficial. O rodízio atingiu delegados da capital e do interior. O primeiro membro do alto escalão a ser trocado foi o delegado Arthur Gallas, que saiu do comando do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele foi substituído pelo delegado Jorge Figueiredo, que era diretor do Departamento de Narcóticos (Denarc).
Gallas foi o primeiro diretor do DHPP, criado há dois anos com o objetivo de melhorar as investigações de assassinatos e diminuir o números de crimes contra a vida. Porém, o número de assassinatos em Salvador passou de 1.299, entre janeiro e outubro de 2011, para 1.316, no mesmo período de 2012 — de acordo com dados da SSP.
Houve mais mudanças na linha de frente da polícia. A delegada Heloísa Campos deixou a direção do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom) para assumir com a Corregedoria da Polícia Civil. O Depom ficou com a delegada Iracema Silva, que era corregedora-chefe. A delegada Emília Blanco passou a chefia de gabinete da Secretaria de Segurança Pública para Gabriela Macedo, que era titular da coordenadoria da Superintendência de Inteligência. Emília agora é diretora do Departamento de Crimes contra o Patrimônio (DCCP), em substituição ao delegado Cleandro Pimenta, que não teve o destino divulgado. Já no dia 2 de março, o Diário Oficial publicou as mudanças nas delegacias territoriais e especializadas em Salvador e Região Metropolitana. Das delegacias de bairro da capital, nove têm novos titulares desde a semana passada.