A Rua Paraguai, no bairro de Santa Mônica, estava tomada de carros no início da madrugada de anteontem. Era uma festa concorrida e o som, nas alturas, vinha das malas dos veículos. Mas o groove não era a única diversão dos jovens. Bebidas e muitas drogas davam o tom da brincadeira, intitulada Calourada.
O promoter, o traficante Antonio Marcos Marcelino Moreira, o Marcos Rambo, 29 anos, líder do tráfico da Avenida San Martin, no entanto, não contava com um penetra: a Polícia Militar. A festa acabou com o som de tiros, trocados entre ele e os PMs, e sua prisão, por volta das 2h.
Integrante da facção Comando da Paz (CP), Marcos Rambo é investigado pela participação em pelo menos 17 homicídios relacionados ao tráfico, entre eles uma chacina na Avenida Peixe, no Pero Vaz, onde cinco pessoas foram executadas em janeiro de 2013 (ver página ao lado).
“Temos a informação de que ele participou da chacina. E o que sabemos de fato é que o nome dele foi comprovado como executor ou mandante em cinco homicídios”, disse o delegado Jamal Amad, coordenador da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS).
Festa do barulho
A Calourada, como a festa foi batizada pelo traficante, tinha o único objetivo: vender drogas no varejo. Os vapores (que na linguagem policial quer dizer quem vende a droga) estavam espalhados em pontos estratégicos na Rua Paraguai. “Eles estavam com pequenas quantidades de entorpecentes, mas a polícia foi pela Rua Vitor Serra, próxima à Rua Paraguai, e surpreendeu o traficante”, disse o major Edmilton Reis, comandante da 37ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Liberdade). “A festa foi organizada através das redes sociais”, complementou o major.
Com Marcos Rambo, a polícia encontrou 100 trouxinhas de maconha. Além de ter sido autuado em flagrante por tráfico de drogas, ele tinha mandado de prisão em aberto pelo mesmo crime, expedido pera 1ª Vara de Tóxicos, em novembro do ano passado. Ele foi condenado a seis anos de reclusão.
Vítimas
Junto com o líder do tráfico foi preso também Felipe Freitas, 32, o Galo, acusado de matar um jovem a pedido do chefão, no dia 10 de abril. Segundo a polícia, Bruno Henrique de Carvalho, 18, foi assassinado após Rambo desconfiar que ele era um informante de uma facção rival. “O rapaz, usuário de drogas, foi visitar a namorada no Alto do Peru e Rambo acreditou que ele era um rival infiltrado e ordenou a execução”, disse o delegado Jamal Amad. Bruno foi morto a tiros por Galo.
Entre as demais vítimas comprovadas do traficante estão: Elington Santos Oliviera, em 21 de janeiro de 2015, no Pero Vaz Velho, e Fabrício Costa dos Santos, em 8 de maio de 2014, no Beco do Sabão. Na ocasião da morte de Fabrício, Flávio Souza Lima também foi baleado, mas sobreviveu.
Prisão anterior
Marcos Rambo havia sido preso em junho de 2013, em Aracaju, durante uma operação conjunta, para cumprimento de mandado de prisão, dos departamentos de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e de Narcóticos (Denarc), com a participação de investigadores da polícia sergipana.
Na ocasião, ele já era considerado o gerente do tráfico de drogas na região da San Martin, da Avenida Peixe e da região da Fonte do Capim.
Além disso, na época, Rambo estava expandindo os negócios para os bairros da Liberdade e Pero Vaz, regiões em que é suspeito de comandar diversos assassinatos.
Traficante é suspeito de comandar chacina na região da Liberdade
Cinco jovens foram mortos – entre eles, três adolescentes – na madrugada do dia 10 de janeiro de 2013, na Avenida Peixe, localidade entre os bairros da Liberdade, Pero Vaz e Caixa d’Água, por um grupo de homens armados. Segundo a polícia, uma das vítimas, Marivaldo Silva de Almeida Jesus, 17 anos, que chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital Ernesto Simões Filho, contou que Marcos Rambo seria um dos envolvidos no crime, junto com Nêgo Lindo, Faraó, Lucas e mais seis bandidos.
Segundo a Polícia Civil, Michele Pereira dos Santos, 22, prima de Marivaldo, era o principal alvo dos assassinos, e todas as vítimas eram envolvidas com o tráfico. O ataque teria sido por disputa de pontos de drogas na região.
No entanto, moradores e parentes relatam que Flávio Henrique Santos Souza, 17, funcionário de uma transportadora, não tinha envolvimento com a criminalidade. Depois que os bandidos bateram à sua porta e arrombaram, o rapaz foi baleado quando tentava exibir a carteira de trabalho assinada dois meses antes.
As outras vítimas estavam todas na frente da mesma casa, onde Michele foi encontrada. Ela, o irmão, Lucas Viera Santos Reis, 13, e o primo Marivaldo, além de um rapaz aparentando ter 20 anos, de prenome Marcos, foram retirados do imóvel e baleados na rua. Os matadores ainda obrigaram Michele e o irmão Lucas a se abraçarem e depois atiraram à queima-roupa contra os dois. Lucas morreu na hora.
Segundo testemunhas, ainda viva, Michele teve a cabeça esmagada com uma pedra. Num descuido dos criminosos, Marcos correu e procurou refúgio exatamente na casa em que Flávio estava, mas também acabou morto dentro do imóvel. Já Marivaldo, apesar de baleado, fingiu-se de morto e foi socorrido logo em seguida, após o bando deixar o local comemorando.
Correio24