Uma vendedora de roupas de 34 anos, moradora do bairro Lagoinha, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, foi estuprada por 10 homens na madrugada da última segunda-feira (17). Segundo ela, os autores do crime são traficantes da localidade onde vive e os estupros se repetem há quatro anos.
Na última agressão, o grupo, composto até por adolescentes, foi surpreendido por policiais militares. Oito homens conseguiram fugir, mas dois menores foram apreendidos. Mãe de três meninas, de 12, 13 e 14 anos, a vendedora conta que não tem conseguido dormir e que vive dias de pânico, desde que foi estuprada pela quarta vez pelo grupo.
“Estava em um bar, na Rua Cardeal Sebastião Leme, bebendo cerveja com um amigo. Já era uma da madrugada quando quatro rapazes chegaram na minha mesa e me obrigaram a entrar no banheiro com eles. Meu amigo ainda chegou a dizer que estava comigo, mas eles falaram que quem mandava em mim eram eles. Já no banheiro, fui obrigada a fazer sexo oral em todos eles”, contou ao jornal Extra.
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Logo em seguida, os quatro criminosos saíram do bar arrastando a vítima pelo braço e a levaram para a Rua Caetano Moura, local muito escuro. Segundo a vítima, os quatro homens a jogaram em um muro e começaram uma longa sessão de abusos e tortura.
“Eu implorava para que eles parassem, mas não adiantava de nada. Eles só me machucavam mais. Aos poucos, foram aparecendo outros homens até que percebi que tinham uns 10 homens abusando de mim. Eles diziam que iriam me matar e me jogar no valão se eu ficasse gritando”, relata a vítima, sem conseguir controlar o choro.
Ainda de acordo com a vendedora, os estupradores só pararam de violentá-la quando perceberam que uma viatura da Polícia Militar havia entrado na rua. Assim que os policiais chegaram ao local, encontraram a vítima chorando compulsivamente e sem roupas. Enquanto conversava com eles, um dos PMs viu dois menores passando pelo local e os abordaram. Os dois, um de 15 e outro de 16 anos, foram reconhecidos pela vítima como participantes do estupro coletivo.
Eles foram levados para a 74ª DP (Alcântara) na mesma viatura da vítima. Os dois foram indiciados por fato análogo ao crime de estupro. Um dos adolescentes, em determinado momento, alisou a perna dela e chegou a cochichar em seu ouvido: “Fica tranquilinha. Vai dar tudo certo”. A mulher contou ainda ter passado por um constrangimento também na delegacia: o policial responsável pelo registro usou, na ocorrência, termos obscenos para descrever a agressão (veja trechos do depoimento abaixo).
O termo de declaração da vítima, colhido pelo comissário Jorge Luiz Prudêncio na 74ª DP (Alcântara), traz expressões como “boquete triplo”, “não usaram camisinha, no pelo” e até a frase “só gritou porque empurraram um galho de árvore em sua bunda”. “Foi tudo feito normalmente. Os termos foi ela que falou. Terminou e eu perguntei: “É isso?”, e ela assinou. Não houve constrangimento nenhum”, disse ao jornal Extra.
A vítima prestou depoimento, fez exames de corpo de delito, no IML de São Gonçalo e foi liberada. A Polícia Civil determinou a redistribuição do inquérito policial à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de São Gonçalo para prosseguir nas investigações. Foi aberto também um procedimento para apurar eventual existência de infração disciplinar por parte do agente.
Como tudo começou
A vendedora de roupas conta que o seu pesadelo começou em junho de 2011, quando ainda namorava um funcionário de uma empresa de refrigerantes. Em uma determinada ocasião, o namorado, segundo ela, filmou sem que ela soubesse a relação sexual deles. Dias depois, ele passou a mostrar para os homens do bairro o que havia feito com ela.
“Foi a partir desse vídeo que minha vida se tornou um inferno. Ainda falei para ele apagar o vídeo e disse que isso iria me complicar. Os traficantes de Lagoinha também tiveram acesso ao material. Já em março de 2012, quando eu estava em um trailler no campo de Miriambi (Bairro vizinho ao de Lagoinha), seis homens, todos do tráfico, me obrigaram a fazer sexo com eles. Eles me arrastaram para dentro do banheiro e fizeram tudo comigo. Eles ficam o tempo todo me coagindo. Me batem muito”, lembra.
Segundo a vendedora, ela se tornou uma espécie de objeto sexual dos traficantes e por causa das filhas passou a ter medo de denunciar os seus algozes. Assustada depois do assunto ter se espalhado pelo bairro, a vítima conseguiu sair e se abrigar na casa de amigos em uma outra cidade.
Por Bahia Política