Assassino diz que matou bailarino depois de briga por valor de programa.
Os R$ 20 reais a menos do que o combinado por um programa provocaram o desentendimento que resultou na morte do bailarino do Balé Folclórico da Bahia (BFB) Reinaldo Pepe dos Santos, 40, na madrugada de domingo. Essa foi a versão dada pelo garoto do programa Wallysson Santana de Castro, 24, à Polícia Civil. Ele foi apresentado na manhã de ontem no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e se disse arrependido.
Wallysson, conhecido também como Galego ou Roy, foi preso anteontem na casa do pai, em Muritiba, no Recôncavo, por policiais da Companhia Independente de Policiamento Especializado/Polo Industrial (Cipe-PI). De acordo com o delegado Guilherme Machado, responsável pelas investigações, o contato entre Wallysson e Reinaldo aconteceu na madrugada do domingo, logo após a saída do bailarino de uma apresentação no Teatro Miguel Santana, no Pelourinho.
“Ele disse que avistou Reinaldo, acompanhado de um amigo, bebendo em uma das ladeiras do Pelourinho. Disse saber de quem se tratava pois o conhecia de vista, então aguardou até que o amigo fosse embora e se aproximou”, informou o delegado. Os dois tomaram uma cerveja, combinaram um programa por R$ 70, e o bailarino o convidou para ir até a casa dele, na Rua do Alvo, na Saúde.
Lá, teriam tido uma discussão sobre o valor do programa. Na apresentação, Wallysson informou que recebeu menos que o combinado. “Nós tínhamos combinado R$ 70 e ele me pagou R$ 50, aí eu não aceitei, pedi a chave para ir embora e ele me deu uma ‘guela’ (gravata), aí eu peguei uma gilete e dei um golpe nele”, afirmou Wallysson.
Em seguida, o garoto de programa narrou que Reinaldo teria esboçado um novo golpe contra ele,
utilizando uma faca. “Ele me feriu na mão, daí nós continuamos brigando, peguei a faca e dei o outro corte no pescoço”, relatou Wallysson, mostrando cicatrizes na mão direita.
O delegado Guilherme Machado disse que um vizinho relatou que ouviu o barulho de pratos e objetos caindo na quitinete de Reinaldo. “O pessoal contou que escutou barulho das coisas caindo no quarto de Reinaldo, mas que eles não fizeram nada pois o bailarino não gritou por socorro, então imaginaram ser um acidente”, relatou.
O delegado disse não acreditar que a agressão tenha partido do bailarino, e que uma briga com facas tivesse precedido o golpe fatal. “Pelo levantamento feito pelos peritos, me parece que, quando Reinaldo foi golpeado no pescoço, ele estava em uma posição vulnerável, ou seja, foi pego de surpresa”, afirmou.
Fuga
Wallysson relatou que, após o crime, limpou o sangue das roupas com água e saiu pelo corredor da pousada, batendo de porta em porta, e pedindo que os inquilinos abrissem o cadeado do portão da frente. “Ele disse aos vizinhos que Reinaldo tinha saído de casa e deixado ele sem as chaves. Depois de receber três negativas, voltou para a quitinete e conseguiu localizar as chaves. Aproveitou, pegou o celular e o computador e foi embora”, disse o delegado.
Depois de deixar a quitinete de Reinaldo, o garoto de programa foi até a casa da avó, no IAPI, onde trocou de roupa e seguiu para a casa da mãe, em Mata de São João, na Região Metropolitana. “De lá, ligou para uma tia e pediu que ela destruísse as roupas que ele usava no momento do crime. E em Mata de São João pediu para um conhecido destruir o notebook da vítima, ficando apenas com o celular”, comentou o delegado.
Wallysson disse no depoimento que estava sob efeito de cocaína durante o crime. Ele relatou que não tinha intenção de roubar a vítima, mas que no desespero antes de sair da pousada coletou os bens do bailarino para vendê-los e conseguir dinheiro para fugir da cidade.
captura Na segunda feira, a polícia recebeu informações de que Wallysson poderia estar se escondendo na casa da mãe. Viaturas se deslocaram até o município, mas quando chegaram ao local, Wallysson já tinha viajado para a casa do pai, em Muritiba, onde acabou capturado na terça-feira.
Wallysson vai responder por homicídio qualificado e roubo, já que ele teria tomado a decisão de roubar depois de matar o bailarino. “O latrocínio é caracterizado quando o indivíduo mata para roubar, o que não foi o caso. Na minha leitura, ele tinha a intenção de matar e só depois tomou a decisão de roubar os pertences”, informou.
Perfil
Wallysson não tinha passagens pela polícia. Ele disse no depoimento que faz programa desde os 21 anos, e citou que atraía seus clientes principalmente no Cine Tupi, espaço que exibe filmes eróticos, na Baixa dos Sapateiros. Natural de Salvador, ele relatou que é usuário de maconha, cocaína e crack, e já foi internado em casas de reabilitação três vezes.
Presente na apresentação, o presidente do GGB Marcelo Cerqueira disse que a comunidade ficou surpresa com a ação de Wallysson, pois ele era uma pessoa conhecida no meio dos garotos de programa. “Ele cobrava barato pelos programas. Clientes dele me relataram que ele era carinhoso, atencioso e não possuía esse perfil agressivo”, disse.
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