ACM Neto e Elmar Nascimento em conflito por pauta na Assembleia

Por Redação
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No dia 24 de abril, o prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento (União), lançou, em evento pomposo para mais de dez mil pessoas no Centro da cidade, a pré-candidatura a reeleição. Por ser irmão do deputado federal Elmar Nascimento (União), um dos políticos mais influentes na Bahia e no Brasil no momento, cotado para ser o próximo presidente da Câmara, várias lideranças estaduais e nacionais estiveram presentes no palanque, mas uma ausência foi sentida: a do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União), alimentando especulações de um afastamento entre os dois caciques de um dos principais partidos do país.

Nesta segunda (12), uma decisão da Executiva estadual do União Brasil provocou o primeiro desentendimento público entre Elmar e ACM Neto. A cúpula partidária, em uma tese sustentada por Neto, decidiu fechar questão para que a bancada da sigla na Assembleia Legislativa, formada por dez deputados – a maior da Casa -, vote contra o novo pedido de empréstimo do governador Jerônimo Rodrigues (PT), no valor de cerca de R$2 bilhões, que deve ser apreciado esta semana, em plenário. Quem não seguir a determinação será punido com o corte do fundo eleitoral e, em última instância, até expulsão da legenda.

O posicionamento, definido após uma reunião do comando partidário, em Salvador, contraria os interesses de Elmar e de dois dos principais aliados dele na Assembleia: os deputados Júnior Nascimento, primo do líder do União Brasil, e Marcinho Oliveira. Eles buscam se aproximar do PT e do governador para, além de terem demandas atendidas, facilitar o caminho do padrinho político na disputa pela presidência da Câmara.

Em entrevistas à imprensa, ontem, Elmar criticou a decisão da Executiva estadual do próprio partido, classificada por ele como uma “ameaça” e tentativa de “intimidação”. Ao pregar mais diálogo e menos imposição, ele evitou criticar diretamente o ex-prefeito, que, hoje pela manhã, em entrevista à Rádio Sociedade, defendeu o posicionamento da cúpula da sigla e deixou claro que, embora apoie as pretenções do líder do União Brasil de ser o próximo presidente da Câmara, não concorda em tudo com o aliado. “Partido também vive da divergência e do respeito”, pregou.

Embora diga apoiar o correligionário na disputa pela presidência da Câmara, ACM Neto, ao contrário do aliado, quer manter distância do PT da Bahia. Elmar, por sua vez, busca, em seu projeto político, se aproximar dos petistas baianos, tanto dos congressistas quanto de Jerônimo e do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Para isso, conta com o apoio, além dos correligionários em Brasília, de liderados na Assembleia. Ou seja, atualmente, dentro do União Brasil, existe uma ala, menor, que defende o diálogo com o PT baiano e uma outra, maior, que busca intensificar ainda mais a oposição. Talvez em medidas diferenciadas, é o que acontece também na legenda no plano nacional.

Enquanto ACM Neto segue implacável nas críticas a Jerônimo, Marcinho Oliveira e Júnior Nascimento, por exemplo, já votaram este ano a favor de um pedido de empréstimo do governador, no valor de R$400 milhões, que seriam aplicados na área da segurança pública. O episódio irritou os aliados do ex-prefeito na Assembleia, incluindo o líder da minoria, Alan Sanches, e o comandante do União Brasil, Robinho. Eles cobravam um posicionamento da cúpula do partido contra os “rebeldes”.

Isso sem falar que Marcinho, mesmo quando líder do União Brasil, cargo que perdeu em março passado para Robinho, já foi criticado diversas vezes pelos colegas por subir no mesmo palanque de Jerônimo em eventos no interior, com o apoio de Elmar. “Eu acho que o nosso papel é ser oposição. Temos que endurecer o discurso contra os malfeitos do PT, e não subir em palanque do governador. Fica até feio isso. Quem está no partido precisa seguir o nosso posicionamento”, disse Robinho. “Eu estive com o governador em eventos nos municípios nos quais fui votado. Isso é natural. Na Assembleia, não faço a oposição do quanto pior, melhor. Sempre que foi bom para a Bahia, votei com o governo”, rebateu Marcinho.

Nos bastidores, a avaliação de lideranças do União Brasil é que o clima deve se acirrar ainda mais entre Elmar, que já admitiu até que o União Brasil pode apoiar a reeleição do presidente Lula (PT), e ACM Neto, virtual candidato antipetista ao Palácio de Ondina em 2026. Para contribuir com esse prognóstico, o ex-prefeito voltou a dar entrevistas à imprensa esta semana, com cutucadas no governo Lula, do qual o próprio partido esta na base e ocupa ministérios, embora ensaie, com o apoio de Neto, lançar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, para uma disputa ao Planalto.

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