Benedita da Silva solicita “correção necessária” por declaração de Carla Zambelli

Por Redação
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A deputada federal Benedita da Silva (PT-SP) afirmou nesta quarta-feira (3) que estão sendo tomadas as “medidas necessárias” após ter sido chamada de Chica da Silva pela também deputada Carla Zambelli (PL-SP).

O incidente ocorreu na última segunda-feira (1º), durante uma live transmitida por Zambelli em seu perfil no Instagram. Durante o vídeo, ela comentava sobre a impossibilidade de discursar na 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, em Maceió.

“Eu não vou falar. Não vou falar porque provavelmente… Não sei, né? Não sei por que não vou falar. Parece que já foi montado pela Secretaria da Mulher que é a Chica da Silva [quem vai falar]”, disse, referindo-se a Benedita da Silva, que também estava presente no evento.

Após a transmissão ao vivo, Zambelli emitiu uma nota de esclarecimento pedindo desculpas à colega e afirmando ter se confundido com os nomes. Na última segunda-feira, a deputada Carla Zambelli equivocou-se em uma transmissão ao vivo realizada em uma rede social e confundiu o nome da deputada Benedita da Silva.

“Imediatamente, quando percebeu o erro, Zambelli apagou a publicação de suas redes e se desculpou com a deputada Benedita. A conversa foi amigável e houve compreensão da situação. Zambelli lamenta o referido lapso, mas torna público que não houve qualquer intenção de ofensa à sua colega de Parlamento.”

Em seu perfil no Instagram, Benedita revelou que só tomou conhecimento do incidente quando o PT já havia emitido uma nota de repúdio. “Acredito que ela terá a correção necessária, seja jurídica, seja política, mas já foram tomadas providências. Eu acho que isso ela terá que responder, porque já há pessoas entrando com ações.”

No texto, Benedita escreveu: “Estou nessa vida política há mais tempo do que essa deputada tem de vida. E cheguei até aqui com respeito, trabalho e muita luta.”

Entenda

Políticos e líderes do movimento negro destacaram que a “confusão” de nomes remete a uma personagem negra importante da história brasileira. Francisca da Silva de Oliveira, conhecida como Chica da Silva, foi uma mulher negra escravizada e posteriormente alforriada que viveu no Brasil no século 18. Filha de um homem branco e uma africana escravizada, ela conquistou liberdade e se tornou uma das mulheres mais ricas do país, simbolo da resistência negra.

Historiadores sugerem que a representação da personagem em produções de cinema e TV ao longo das últimas décadas contribuíram para popularizá-la, mas também acabaram perpetuando uma imagem negativa e estereotipada de Chica da Silva.

Coordenadora da organização não-governamental Criola, Lúcia Xavier ressaltou que é comum relegar todas as mulheres negras ao papel de escravizadas e sexualizadas. “Chica da Silva e Benedita da Silva são figuras ilustres, que contribuíram para melhorar o Brasil, cada uma em seu tempo. No entanto, é muito provável que estejamos diante de uma situação em que alguém se vale de uma história mal contada sobre Chica da Silva para atribuir à deputada Benedita da Silva certas origens e estereótipos”, avaliou Lúcia Xavier, uma das principais referências do movimento de mulheres negras.

Em seu quinto mandato como deputada federal, Benedita da Silva foi a primeira mulher negra a ocupar os cargos de vereadora do Rio de Janeiro, deputada na Assembleia Constituinte de 1988, senadora e governadora do Rio de Janeiro. Ela também foi ministra da Secretaria Especial de Trabalho e Assistência Social e atualmente coordena a bancada feminina na Câmara.

Reações

A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados emitiu uma nota de repúdio àquilo que classificou como “fala racista e preconceituosa” por parte de Carla Zambelli. “A comparação com a personagem [Chica da Silva] pode ser usada de forma pejorativa, para desqualificar sua identidade racial e, especialmente, sua história política de luta pelos direitos das mulheres.”

“Ao chamar Benedita de Chica da Silva, a referida parlamentar não teceu uma fala elogiosa à nobre parlamentar Benedita, mas utilizou a ironia, o deboche e o escárnio para desqualificar a coordenadora da Bancada Feminina apenas por discordar das regras para participação parlamentar no evento”, completou a nota.

O episódio gerou grande repercussão nas redes sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva compartilhou em seu perfil no X uma foto em que aparece de mãos dadas com Benedita e escreveu: “Minha amiga e companheira de muitas décadas. Exemplo de fé, muito trabalho e amor pelo povo brasileiro.”

A ministra da Mulheres, Cida Gonçalves, manifestou sua “solidariedade e apoio incondicional” a Benedita. “Sua trajetória ímpar na defesa dos direitos das mulheres, da igualdade racial e da justiça social precisa ser respeitada”, escreveu no X. “Reforço a necessidade de o Brasil dar um basta nessas violências que buscam atingir, a todo momento, mulheres negras em espaços de poder e decisão.”

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, classificou a fala de Zambelli como “inaceitável, desrespeitosa e de cunho racista” e citou Benedita como uma referência para o Brasil, para a política e para a democracia. “Benedita abriu caminhos para muitas e muitos de nós e é nossa inspiração cotidiana. Estamos juntas e seguiremos em luta contra as desigualdades e todas as formas de violência.”

Em seu perfil no X, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enviou uma mensagem para Benedita: “Não me canso de dizer que sua trajetória, sua garra e sua fé são uma inspiração para todas nós. Não há descanso no combate ao racismo. Seguimos juntas na defesa da democracia.”

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, lembrou que esta quarta-feira marca o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial e citou uma frase da filósofa e escritora Angela Davis ao escrever: “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Meu abraço carinhoso à deputada Benedita da Silva e minha indignação diante desse caso lamentável.”

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, referiu-se a Benedita como “uma das maiores referências da política nacional”. “Uma inspiração para homens e mulheres que lutam por um país democrático, desenvolvido e sem racismo.”

Com informações da Agência Brasil.

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