O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou nesta segunda-feira (15) que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento da gravação da conversa presente na investigação da Polícia Federal (PF) sobre a atuação ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), conhecida como “Abin Paralela”.
Logo cedo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo do áudio, que foi encontrado no celular de Ramagem, ex-diretor da Abin durante o governo Bolsonaro, em uma das fases da investigação.
Na gravação, Ramagem, Bolsonaro e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno conversam com duas advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O diálogo ocorreu em agosto de 2020, quando elas buscavam medidas para tentar anular a investigação contra o parlamentar, que foi investigado por “rachadinha” em seu gabinete quando era deputado estadual. Em 2021, a investigação foi anulada pela Justiça.
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Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Alexandre Ramagem afirmou que Bolsonaro estava ciente de que a conversa seria gravada com o objetivo de registrar um crime contra o ex-presidente.
“Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente. A gravação aconteceu porque veio uma informação de uma pessoa que viria na reunião, que teria contato com o governador do Rio à época [Wilson Witzel], que poderia vir com uma proposta nada republicana. A gravação seria para registrar um crime contra o presidente da República, só que isso não aconteceu. A gravação foi descartada!”, justificou.
Ramagem também afirmou que as advogadas de Flávio apresentaram “possíveis irregularidades” que estavam ocorrendo na parte da investigação relacionada à Receita Federal e sugeriram a atuação do GSI. O ex-diretor declarou que foi contra a sugestão.
“Falei que a inteligência não tem como tratar de dados de sigilo bancário e fiscal, não haveria o resultado pretendido. A atuação do GSI seria prejudicial para o general Heleno, que não seria a via correta e não teria resultado. Ou seja, informando que o que deveria ser feito era cientificar a própria Receita para abertura de procedimento interno e administrativo, na forma legal, para qualquer desvio de conduta que possa estar acontecendo”, disse.
O ex-diretor também isentou Jair Bolsonaro da acusação de favorecer seu filho. “De toda a reunião, as advogadas devem ter falado 80% da reunião, contando os episódios. O presidente Bolsonaro pouco se manifestou. Quando o presidente se manifestou, sempre informou que não queria favorecimento”, completou.
Receio
Diferentemente do que foi afirmado por Ramagem, Bolsonaro e o general Heleno demonstraram preocupação com o possível vazamento da conversa gravada.
Heleno: Tem que alertar ele [chefe da Receita], ele tem que manter esse troço fechadíssimo. Pegar de gente de confiança dele.
Em seguida, Jair Bolsonaro pareceu desconfiar que estava sendo gravado e disse que não queria “favorecer ninguém”.
“Tá certo. E deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém está gravando alguma coisa, que não estamos procurando favorecimento de ninguém”, afirmou.
Witzel
No áudio, Bolsonaro mencionou Witzel e afirmou que o ex-governador do Rio teria solicitado uma “vaga no Supremo” em troca de favorecimento para Flávio Bolsonaro.
“No ano passado, no meio do ano, encontrei com o Witzel, não tive notícia [inaudível], bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo”, disse.
Em nota, Witzel negou a conversa mencionada pelo ex-presidente.
O presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido, e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria, a nível local, o que hoje se está verificando que foi feito com a Abin e Polícia Federal“, declarou.
Defesas
Em nota, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que o áudio mostra apenas suas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal, com o objetivo de prejudicá-lo e à sua família. “A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não ‘tem jeitinho’ e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei. E assim foi feito”, disse o senador.
Procurado pela reportagem, o advogado do general Augusto Heleno, Matheus Mayer, informou que não vai se manifestar sobre o assunto.
A defesa do ex-presidente Bolsonaro também foi procurada, mas não quis se manifestar. A Agência Brasil está aberta para incluir o posicionamento dos citados.
Com informações da Agência Brasil.