O renomado escritor Paulo Coelho fez um extenso relato em inglês na rede social X, na madrugada deste domingo (21), sobre as torturas que sofreu em 1974 por agentes da ditadura militar, que governaram o Brasil entre 1964 e 1985. Na época, Paulo era apenas um compositor de rock e teve seu apartamento invadido por homens do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e foi levado para uma delegacia, onde foi fichado, interrogado e posteriormente liberado. Na volta para casa, foi vítima de uma armadilha e levado para um centro de tortura, onde sofreu espancamentos.
Ao final do relato, Paulo revelou o motivo de sua prisão: uma pessoa o denunciou, de acordo com os documentos obtidos pelo biógrafo Fernando Moraes, autor de “O Mago”. Contudo, o escritor optou por não descobrir a identidade do delator.
“1974: Um grupo de homens armados invade meu apartamento. Eles começam a vasculhar gavetas e armários – mas não sei o que procuram, sou apenas um compositor de rock. Um deles, mais gentil, pede que eu os acompanhe “só para esclarecer algumas coisas”. O vizinho testemunha o ocorrido e avisa minha família, que entra em pânico imediatamente. Todos estavam cientes do que o Brasil enfrentava naquela época, mesmo que não fosse noticiado nos jornais.
Fui conduzido ao DOPS, autuado e fotografado. Perguntei o motivo da prisão, mas fui informado que as perguntas seriam feitas posteriormente. Após alguns questionamentos irrelevantes, fui solto. A partir desse momento, oficialmente não estava mais detido – portanto, o governo não tinha mais responsabilidade sobre mim. Ao sair, o homem que me levou ao DOPS sugeriu que tomássemos um café juntos. Durante o trajeto de táxi, fui surpreendido por uma emboscada. Fui arrastado para um centro de tortura, onde sofri agressões físicas.
No dia seguinte, outra sessão de tortura, com as mesmas questões. Apesar de oferecer cooperar, meus pedidos foram ignorados. Posteriormente, fui deixado em confinamento solitário. Após um período de tempo indeterminado, fui liberado em uma praça pública cheia de crianças no Rio de Janeiro.
Décadas depois, os arquivos da ditadura foram tornados públicos e meu biógrafo, Fernando Morais, teve acesso a todo o material. Ao questionar o motivo de minha prisão, ele revelou que fui denunciado por um informante. No entanto, decidi não descobrir a identidade do delator. Isso não mudaria o passado”, relatou Paulo Coelho em seu testemunho.
A história de Paulo Coelho é um retrato vívido dos horrores vividos durante a ditadura militar no Brasil e serve como um lembrete da importância da luta pela liberdade e pelos direitos humanos. A coragem do escritor em compartilhar sua experiência é um testemunho da resiliência humana diante da adversidade.