O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (14) o parecer que pede a cassação do mandato do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O relatório elaborado pelo deputado Marcos Rogério (DEM-RO) foi aprovado com 11 votos favoráveis e 9 contrários e agora será encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Casa. De lá, o pedido de cassação será remetido à votação no plenário da Câmara.
Os votos decisivos pela cassação do mandato do peemedebista vieram dos deputados Tia Eron (PRB-BA) e Wladimir Costa (SD-PA).
Tia Eron enfrentou na última semana pressões de aliados de Cunha pedindo o voto favorável ao presidente afastado da Câmara, e de caciques do partido, como o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Celso Russomanno, que defende a cassação do mandato de Cunha.
Antes de votar, a deputada garantiu que iria decidir conforme a própria consciência, apesar de confirmar que foi muito “tripudiada” e “requisitada” desde que faltou ao encontro do conselho realizado na semana passada. “Eu não posso absolver o representado nesta tarde. Eu não posso. Quero votar sim”, anunciou Tia Eron, que foi muito aplaudida pelos colegas no Conselho de Ética. Ela criticou as próprias mulheres que tentaram desacreditá-la e pediu à imprensa que leia mais Umberto Eco, escritor italiano e autor de O Nome da Rosa.
Já Wladimir Costa, que pouco antes de votar havia provocado grande confusão no colegiado ao dizer que o PT seria um “partido de gente vagabunda”, surpreendeu ao anunciar voto contrário a Eduardo Cunha. Wladimir Costa é filiado ao Solidariedade, partido de Paulinho da Força, apontado como um dos principais homens da ‘tropa de choque’ de Cunha.
Ao fim da votação, deputados exibiram cartazes com dizeres como “Antes tarde do que Cunha” e entoaram um coro de “Fora,Cunha”. O presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), não participou da votação realizada no fim da tarde desta terça-feira.
Histórico
O processo contra Eduardo Cunha já tramitava no conselho há mais de sete meses, o mais demorado da história do colegiado. A ação por quebra de decoro parlamentar foi protocolada em outubro pelo PSOL e pela Rede Sustentabilidade, sendo aceita pelo presidente do conselho no início de novembro.
As duas legendas alegaram que o deputado mentiu à extinta CPI da Petrobras ao dizer que não possui contas no exterior. A afirmação foi colocada em cheque após investigação do Ministério Público da Suíça identificar, no ano passado, que Eduardo Cunha e sua família eram beneficiados por trustes [entidades que administram bens e recursos] no país europeu.