Uma reportagem da Folha de S. Paulo publicada na terça-feira (13) revelou conversas entre o gabinete do ministro Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal) e o órgão de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que na época estava sob seu comando. As conversas vazadas indicam que em vários casos o próprio ministro ou seu juiz assessor escolhiam os alvos de investigação.
De acordo com o material obtido pela Folha, os diálogos também mostram que os relatórios eram ajustados quando não atendiam às expectativas do gabinete do STF e, em alguns casos, eram feitos sob medida para embasar ações pré-determinadas, como multas ou bloqueios de contas e redes sociais.
As mensagens obtidas, conforme a reportagem da Folha, foram trocadas entre Airton Vieira, juiz instrutor do gabinete de Moraes no STF, Marco Antônio Vargas, juiz auxiliar de Moraes durante sua presidência no TSE, e Eduardo Tagliaferro, então chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação), órgão subordinado a Moraes na corte eleitoral.
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O material indica que, em 6 de dezembro de 2022, Airton Vieira enviou uma mensagem a Tagliaferro com um pedido específico e uma medida já determinada. “Vamos levantar todas essas revistas golpistas para desmonetizar nas redes”, escreveu às 18h11 daquele dia.
A solicitação foi acompanhada de um link do Twitter da revista Oeste, publicação de perfil de direita, antipetista e simpática ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Essa e outras do mesmo estilo”, acrescentou Airton.
A continuação da conversa, já em 7 de dezembro, foi no grupo integrado pelos dois e Marco Antônio Martins Vargas, juiz auxiliar de Moraes no TSE.
Por volta das 17h, Tagliaferro avisou que na revista Oeste encontrou apenas “publicações jornalísticas”, que “não estavam falando nada” e perguntou o que, então, ele deveria colocar no relatório.
Airton Vieira respondeu em seguida. “Use a sua criatividade… rsrsrs.” E completou: “Pegue uma ou outra fala, opinião mais ácida e… O Ministro entendeu que está extrapolando com base naquilo que enviou… “.
“Vou dar um jeito rsrsrs”, disse Tagliaferro.
Nos diálogos obtidos pela Folha, não fica claro quais materiais produzidos pela revista Oeste foram enviados pelo ministro e qual a destinação do relatório produzido por Tagliaferro.
Ainda segundo a Folha, outro alvo escolhido por Moraes foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Conversas de novembro de 2022 entre Marco Antônio Vargas e Tagliaferro mostram o pedido para relacionar o filho de Jair Bolsonaro com o argentino Fernando Cerimedo, que entrou na mira de Moraes por replicar em suas lives a desinformação de que a eleição havia sido fraudada porque cinco modelos de urnas em que Lula recebeu mais votos não teriam sido submetidos aos testes de segurança.
Já em 6 de dezembro, o tema voltou a motivar a conversa entre os dois. Logo pela manhã, às 10h28, Tagliaferro disse a Marco Antônio Vargas que Cerimedo e “E Bolsonaro” são “amigos já faz 10 anos”. O chefe do combate à desinformação ainda brincou e disse que “se prender o EB, o Brasil entra em colapso”.