As restrições, afirmam os analistas, devem prejudicar principalmente os nomes desconhecidos, que terão mais dificuldade para se apresentarem ao eleitorado
A eleição municipal deste ano deverá trazer vários sinais sobre como será a disputa presidencial em 2018. A mudança das regras, somada a fatos novos surgidos desde o último pleito, sobretudo as denúncias de corrupção, promete transformar a forma de se fazer campanha e, por consequência, a percepção dos eleitores a respeito dos partidos e dos candidatos. E pode servir de "laboratório" para a próxima eleição.
Cientistas políticos ouvidos pelo Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, destacam que se deve ficar atento em especial a como os políticos e eleitores reagem à proibição do financiamento empresarial, ao menor tempo de campanha, ao desempenho de nomes que têm apoio de possíveis presidenciáveis e ao provável enfraquecimento de partidos envolvidos na Lava Jato.
Sem receber doações de empresas, as candidaturas terão à disposição apenas os recursos do Fundo Partidário ou doados por pessoas físicas. Os candidatos, além disso, terão menos contato com os eleitores, já que o tempo de campanha nas ruas e nos palanques caiu de 90 para 45 dias. No rádio e na televisão, a redução foi de 45 para 35 dias. As restrições, afirmam os analistas, devem prejudicar principalmente os nomes desconhecidos, que terão mais dificuldade para se apresentarem ao eleitorado.
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"A crise política poderia fazer surgir novas figuras, mas os grandes partidos não vão querer apostar nesses, porque não há dinheiro nem tempo suficiente para fazê-los despontar", avalia Humberto Dantas, cientista político associado da 4E Consultoria. Sairão na frente, portanto, os candidatos que já possuem uma história política relevante. "Tive a oportunidade de analisar as pesquisas de intenção de voto em 22 capitais. Em todas, os três primeiros colocados são prefeitos, ex-prefeitos ou deputados e senadores", disse.
Podem fugir à regra os candidatos que, apesar de pouco conhecidos, dispõem de recursos próprios para bancar a campanha. É o caso do empresário João Doria, que não tem um passado político, mas é a aposta do PSDB para a disputa em São Paulo. Dono de um grupo de empresas, o tucano terá o desafio de derrotar o deputado federal Celso Russomanno (PRB), a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (PMDB), a ex-prefeita e deputada federal Luiza Erundina (PSOL) e o prefeito Fernando Haddad (PT), os quatro primeiros colocados, nesta ordem, nas últimas pesquisas de intenção de voto.
Embora continuem como favoritos na maioria das cidades, os grandes partidos devem eleger menos prefeitos e vereadores nesta eleição, esperam os analistas. Não só em razão dos desdobramentos da Operação Lava Jato, mas também porque falharam em produzir novas lideranças. "Assim, a pulverização das instâncias de mando, a começar com as prefeituras, trará uma inédita perda da fé pública, e os candidatos à Presidência em 2018, não possuindo os recursos milionários do passado recente para gastar em propaganda, precisarão como nunca das alianças que lhes garantem horário de rádio e TV", prevê o professor Roberto Romano, que leciona Filosofia e Ética na Unicamp.
Romano, no entanto, ressalta que as pequenas siglas também não abrigam políticos com capacidade de cativar eleitores que perderam a fé na política, como ocorreu com Fernando Collor em 1989, à época no inexpressivo PRN. Com isso, ele teme que o vácuo de lideranças seja ocupado por figuras autoritárias, que, independentemente do partido, prometam resolver a crise por meio da força ditatorial, a exemplo do que tem feito Donald Trump em sua campanha para presidente dos Estados Unidos. "A ausência de grandes lideranças é problema de quase todas as democracias de hoje", lamenta o professor.
PT
Na avaliação dos analistas, o Partido dos Trabalhadores será o mais prejudicado nas eleições municipais, principalmente em razão das denúncias de corrupção reveladas pela Lava Jato. "Não porque o PT seja o mais culpado. O PP, por exemplo, tem mais políticos envolvidos na investigação do que o PT. Mas o fato de comandar o governo federal nos últimos 13 anos e ter figuras como o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no centro das investigações fazem com que o PT seja o mais afetado", argumenta o cientista político Leandro Consentino.
Não é a toa que, com a desfiliação de dezenas de prefeitos eleitos em 2012, o PT disputará, em 2016, o menor número de prefeituras em 20 anos, conforme levantamento publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo na última segunda-feira, 8. Se perder em capitais importantes, como em São Paulo, onde Haddad tenta a reeleição, a sigla poderá chegar ainda mais enfraquecida à disputa em 2018. Diante disso, Dantas, da 4E, acredita que o campo da esquerda deverá abrir espaço para partidos como o PCdoB, o PSOL e o PDT, este último com a intenção de fortalecer a candidatura de Ciro Gomes para 2018.
As eleições municipais também serão uma oportunidade para que presidenciáveis tucanos meçam sua influência política, afirma o cientista político Rafael Cortez. Se Doria sair vitorioso em São Paulo, será uma demonstração de força do governador Geraldo Alckmin. O mesmo ocorrerá se o nome apoiado pelo senador Aécio Neves em Belo Horizonte, João Leite, ganhar a disputa na capital mineira.
"Nas pesquisas para presidente em 2018, nenhum dos possíveis nomes do PSDB se sobressai, portanto, está tudo muito em aberto, não existe candidato natural. As eleições municipais são o primeiro passo. Não é por acaso que Alckmin se empenhou para Doria ganhar as prévias do PSDB para a eleição em São Paulo", avalia Cortez. Na ocasião, o nome apoiado por José Serra nas prévias, Andrea Matarazzo, desistiu da disputa e migrou para o PSD, pelo qual será vice na chapa de Marta Suplicy. Com informações do Estadão Conteúdo.