Bancada da Bíblia fortalece sua influência, enfrentando novos desafios

Por Redação
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Com o retorno das atividades no Legislativo, um dos principais desafios do governo federal consiste em estreitar laços com o grupo de parlamentares conservadores da bancada evangélica. Essa análise é sustentada por especialistas ouvidos pela Agência Brasil, como o escritor André Ítalo, autor do livro A Bancada da Bíblia: uma História de Conversões Políticas (editora Todavia, 301 páginas), lançado no final do ano passado.

O pesquisador destaca que, apesar de manter uma postura mais conservadora em pautas relacionadas aos costumes, a bancada evangélica tem, historicamente, demonstrado apoio ao governo em questões econômicas. “Independentemente de ser um governo de esquerda ou de direita, esse grupo sempre se mostrou próximo ao Executivo”, afirma.

Uma das razões para essa proximidade, segundo André Ítalo, reside na necessidade de preservar privilégios como isenções tributárias para as igrejas. Ele recorda que, nos governos anteriores a Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro, a presença de pastores em altos escalões era comum, além do apoio dos evangélicos a presidentes como Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.

No entanto, o governo de Jair Bolsonaro foi considerado um “divisor de águas” na relação entre os evangélicos e a administração federal. “Bolsonaro foi o primeiro presidente de direita a estabelecer uma afinidade ideológica com a bancada evangélica”, aponta o pesquisador. Com o retorno de Lula ao poder, a bancada da Bíblia passou a se afastar do governo, de acordo com sua análise.

O autor ressalta que a bancada evangélica tem apresentado um crescimento mais lento nos últimos anos, em comparação ao que ocorreu no final dos anos 1990 e em 2010. “Esse crescimento é natural, considerando que a expansão da população evangélica também se dá de forma mais gradual. É crucial ressaltar que a representação evangélica na Câmara, que é de menos de 20%, é inferior à proporção de evangélicos na população, que gira em torno de 30%”, explica André Ítalo.

Atualmente, estima-se que existam cerca de 90 a 100 deputados evangélicos na Câmara, em um total de 513. No Senado, esse número varia entre 10 a 15 senadores, de um total de 81.

Dores do crescimento

O professor Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), observa que a bancada evangélica não é homogênea. “Existem diversos segmentos dentro da bancada, cada um com suas estratégias. A mais consolidada é a da Igreja Universal, que se firmou no partido político Republicanos e atualmente preside a Câmara”, comenta.

Ele considera a estratégia do Republicanos como uma das mais eficientes, ao abrir espaço para políticos não evangélicos, como o atual presidente da Câmara, Hugo Motta. “Essa abertura se mostrou acertada”, afirma. Contudo, a bancada enfrenta o que o professor chama de “dores do crescimento”.

Barreto analisa que muitos representantes desses partidos desejariam uma aproximação ao centro do espectro político, mas se sentem pressionados por uma base evangélica que se tornou mais conservadora e à direita do que o era anteriormente. “A bancada se encontra em um espectro conservador de direita que limita suas opções de escolha. A base foi deliberadamente politizada”, acredita.

Base

Entre as revelações do livro de André Ítalo está a história do primeiro pastor a ser eleito deputado federal no Brasil, com o apoio de sua igreja. “O nome dele era Levi Tavares, e ele atuou no mandato de 1967 a 1971. Ele veio do exterior da política”, relata.

Foi durante a Constituinte, nas eleições de 1986, que surgiu o termo bancada evangélica. “As igrejas evangélicas perceberam a necessidade de se envolver na política, temendo que o catolicismo tivesse uma influência excessiva na Constituinte e pudesse se tornar a religião oficial do país”, explica o pesquisador.

Ele contextualiza que setores da Igreja Católica se opuseram à ditadura (1964-1985) e se aliaram a grupos de esquerda, o que contribuiu para que as igrejas evangélicas se posicionassem à direita. “Após o fim da ditadura, os evangélicos se mobilizaram e elegeram diversos deputados, totalizando 32 no primeiro momento”, analisa.

André Ítalo diferencia a “bancada da Bíblia” da Frente Parlamentar Evangélica, um grupo institucionalizado que conta com 219 deputados e 26 senadores, de diversos partidos, incluindo alguns de centro e esquerda. Para a formação da frente, é necessário um mínimo de assinaturas, totalizando 171 parlamentares.

“Os deputados evangélicos representam cerca de 90. Eles não conseguem criar a frente sozinhos, necessitando da colaboração de deputados não evangélicos”, explica.

Conforme a pesquisa de André Ítalo, a frente possui um grupo de assessores parlamentares que se reúne toda segunda-feira para mapear as pautas a serem discutidas nas principais comissões da Câmara, que são mais sensíveis aos evangélicos. Na terça-feira, os deputados evangélicos discutem a programação. Atualmente, o coordenador da frente é o deputado Silas Câmara (Republicanos – AM).

A reportagem buscou contato com a assessoria do deputado líder da frente evangélica para comentar sobre o trabalho da frente, mas não obteve resposta. Com informações da Agência Brasil.

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