O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, manteve a prisão do ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), preso preventivamente desde a última segunda-feira. Nesta quinta, Geddel participou de uma audiência de custódia perante o magistrado. Ele negou qualquer tentativa de obstrução de justiça, principal motivo que o levou a ser detido. A defesa tentou trocar a prisão preventiva por medidas cautelares alternativas, como a proibição de sair de casa.
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Durante a audiência, quando o juiz Vallisney já tinha dito que manteria sua prisão, Geddel chorou e enxugou as lágrimas com suas próprias mãos. As lágrimas vieram nos últimos minutos da audiência, que durou pouco menos de uma hora e meia. Geddel parecia abatido e ficou cabisbaixo por vários momentos. Também roeu as unhas algumas vezes.
Para tentar o benefício, Gamil Föppel, advogado de Geddel, citou o exemplo de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer, preso por ordem do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), e depois solto, mas com a obrigação de seguir algumas restrições, como usar tornozeleira eletrônica. O Ministério Público Federal (MPF) foi contra, ressalvando que, em momento posterior, o quadro pode mudar e o pedido poderá ser apreciado novamente.
— Tudo isso para mim é uma surpresa. Nunca tive nenhum problema, nenhum tipo de problema. Coopero com a justiça, sempre cooperei. Tudo o que eu fiz ou deixei de fazer foi sob orientação dos meus advogados. E tenho a crença inabalável, a confiança de que não tomei nenhuma atitude que pudesse de longe ser interpretada com embaraço às investigações — disse Geddel.
— Eu mantenho aqui o que eu já coloquei na decisão de que há esses indícios de autoria e materialidade quanto ao custodiado que levaria aos requisitos da prisão preventiva — decidiu o juiz Vallisney.
O pedido para prender Geddel foi feito pelo MPF e pela Polícia Federal (PF). O ex-ministro, do grupo de peemedebistas próximos ao presidente Michel Temer, é acusado de tentar impedir eventual acordo de delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro, ambos também presos. Geddel foi detido em Salvador e depois transferido para Brasília.
No pedido de prisão apresentado ao juiz, os investigadores afirmam que, entre maio e junho, Geddel fez ligações à esposa de Lúcio Funaro, Raquel Pitta Funaro, por meio do Whatsapp. Ela entregou cópias da tela do aplicativo. Geddel é identificado como “Carainho”. Para o MPF, “os novos elementos deixam claro que Geddel continua agindo para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém que reitera na prática criminosa”
— Esses prints de whatsapp foram juntados sem perícia. Seria necessário apreender o celular de quem teria recebido a mensagem e proceder a perícia – rebateu o advogado de Geddel, acrescentando: — Sequer são prints do celular da mulher de Funaro. São prints de seu advogado para quem ela mandou.
O defensor reclamou ainda que ela não tenha sido ouvida até agora. Assim, o juiz Vallisney determinou que a mulher de Funaro preste depoimento e que o celular dela passe por perícia em três dias úteis, mas considerou que o quadro ainda é grave, o que justifica, por agora, a prisão preventiva.
— O quadro me parece grave. Temos um preso (Funaro) há um ano. A esposa recebe telefonema de uma pessoa investigada. Me parece grave não só para afetar o resultado do processo, mas também o ânimo dela — afirmou Vallisney.
Questionado sobre ligação para a mulher de Funaro, Geddel disse que apenas retornou um telefonema não atendido, de um número que sequer tinha salvo na agenda. Depois disso, ao responder questionamento do procurador da República Anselmo Lopes, o ex-ministro afirmou que falou mais de dez vezes com ela ao longo do último ano. Indagado qual era o assunto dessas conversas, ele respondeu:
— “Como vai?”. “Tá bem?”
Geddel também foi questionado se pressionou algum investigado.
— Em nenhum momento, em nenhum instante, em nenhuma circunstância, de nenhuma forma. Eu posso lhe assegurar — disse o ex-ministro.
No começo da audiência, o advogado de Geddel afirmou que vai apresentar a senha do celular do cliente. Destacou também que, antes de ser preso, ele tinha comparecido espontaneamente no MPF e entregado documentos. Foi uma tentativa de mostrar que ele não está atrapalhando as investigações. A audiência de custódia permite o contato direto entre preso e juiz, para que seja avaliada a necessidade de mantê-lo ou não atrás das grades. Sobre a forma como se deu a prisão, Geddel disse que não houve maus-tratos.
DELAÇÃO
Em entrevista após a audiência, o advogado de Geddel negou que ele tenha intenção de fazer um acordo de delação.
— Não haverá delação porque não há o que delatar — disse Gamil Föppel.
Geddel teve prisão preventiva decretada por Vallisney a partir da Operação Cui Bono, investigação sobre supostas fraudes cometidas pelo ex-ministro no período em que esteve à frente da vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. O ex-ministro é acusado de se associar a Cunha, Funaro, Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, e outros para facilitar a liberação de financiamento para determinadas empresas em troca de propina.
Em depoimento que faz parte das investigações contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF), Funaro, que está negociando um acordo de delação, confirmou que Geddel atuava como interlocutor do presidente junto a Joesley Batista, da JBS. Disse ainda que o ex-ministro vinha fazendo sondagens para saber se ele iria fazer mesmo fazer delação. Geddel teria ligado e mandado mensagens várias vezes para a mulher de Funaro, Raquel Funaro, para saber como estava a disposição do ex-cúmplice para abrir o jogo como a justiça sobre corrupção no governo federal.
Funaro disse que não tinha relação próxima com Temer, mas que mantinha contato com Geddel, Eduardo Cunha e com o também ex-ministro Henrique Eduardo Alves. Funaro estima ter pago R$ 20 milhões a Geddel a título de comissão de operações que ele teria viabilizado na Caixa Econômica Federal, banco no qual o ex-ministro já foi vice-presidente.
O globo