Além de constatar falhas nas câmeras no momento em que Anthony Garotinho alega ter sofrido agressões, peritos do Ministério Público Estadual do Rio também apontaram a livre circulação dos presos da Operação Lava Jato e de seus pertences – como ‘sacolas grandes e pequenas’ na cadeira pública de Benfica. Em meio ao recebimento ‘itens diversos’, os presos do colarinho branco sequer recebiam as quentinhas fornecidas aos presidiários de outras alas. O ex-governador Sérgio Cabral foi transferido da cadeia pública de Benfica para o Complexo Médico Penal de Pinhais, nesta sexta-feira, 19, justamente em razão de privilégios.
A perícia foi feita para analisar a agressão denunciada pelo ex-governador Anthony Garotinho. Quando esteve preso, ele alegou ter sido alvo de agressão por um homem com um taco em sua cela e foi punido por não provar a ocorrência no cárcere. Em decorrência da penalidade, chegou a ser transferido para Bangu 8. Em dezembro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, mandou soltar o ex-governador.
Uma das falhas registradas no momento em que Garotinho diz ter sido agredido foi notada justamente pela comparação de duas câmeras que filmavam o corredor da cela do ex-governador. Uma delas captou as mãos dele batendo palmas para chamar a segurança enquanto a outra, no mesmo momento, permaneceu com a imagem congelada.
Em outro vídeo, os peritos apontam um ponto cego ‘entre os portões das galerias B e C, permitindo o trânsito de pessoas sem qualquer tipo de registro pelo sistema, uma vez que as demais câmeras estavam inativas’
Para os peritos ‘há fortes indícios de interferência humana na gravação do fluxo de imagens por ocasião da suposta agressão ao ex-Governador Anthony Garotinho’.
Além de constatar as irregularidades envolvendo o caso de Garotinho, os peritos chamaram, no mesmo relatório, a atenção para o tratamento privilegiado aos presos da Lava Jato, que ficam na galeria C da cadeia pública de Benfica.
“Notadamente o fluxo de pessoas e objetos na Galeria C destaca-se das demais, em vários momentos são vistos presos atravessando a mão entre as grades do portão da Galeria C, abrindo a mesma e acessando livremente o pátio”, apontam.
Os peritos ainda ressaltam que a ‘galeria C conta com uma área que funciona como “antessala” e que serve de ambiente de interação entre presos e agentes sem que se observe diferenciação de comportamento entre eles’. “Somente o fato de uns usarem uniforme de detento e outros de agente é o que permite diferenciá-los”.
De acordo com os peritos, além de nunca haver fornecimento de quentinhas aos presos da Lava Jato, a galeria C ainda ‘recebe grande fluxo de itens diversos, sacolas grandes e pequenas e sacos de gelo sem que haja qualquer rotina de horário e muitas vezes sem acompanhamento de agentes’.