Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar da competência do juiz Sérgio Moro trechos da delação da Odebrecht sobre as reformas do sítio de Atibaia e a compra do terreno onde seria construída a sede do Instituto Lula, os procuradores da Lava Jato tentam fechar delação premiada com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque.
De acordo com informações de O Globo, ele já se tornou colaborador da força-tarefa em um acordo internacional e, agora, deve ajudar nas investigações também em terras brasileiras.
Acredita-se que a busca pelo acordo com Duque foi intensificada porque, nos dois processos retirados das mãos de Moro, são investigados repasses feitos pela Odebrecht, a partir de uma conta de propina abastecida por recursos oriundos de contratos da Petrobras, e administrada pelo ex-diretor. Seria uma forma se compensar a “lacuna” causada pela decisão do Supremo nas investigações a cargo da Justiça de Curitiba.
Duque é apontado como o principal operador do PT no esquema envolvendo a estatal, e seria responsável por recolher propinas durante todo o governo Lula e em parte da gestão de Dilma Rousseff.
Ainda conforme O Globo, o ex-diretor tornou-se um “ativo” nas investigações por guardar em seus arquivos um amplo conjunto de provas documentais que reforçariam o elo entre o PT, os ex-presidentes e os repasses da Odebrecht.
Denúncia anterior
Em depoimento anterior a Moro, durante as investigações, Duque já afirmou ter tido, pessoalmente, três reuniões secretas com o ex-presidente Lula, que cobrava a liberação de verbas para as empreiteiras.
Também disse que o ex-presidente o procurou para saber se havia alguma conta na Suíça em que tivesse recebido propinas pelo esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato. De acordo com o ex-diretor da Petrobras, devido ao nível de informações sobre as operações negociadas entre a estatal e outras empresas, ficou “claro” que Lula “tinha pleno conhecimento” e “detinha o comando de tudo”.
“No último encontro, em 2014, já com a Lava Jato em andamento, ele [Lula] me chama em São Paulo, no hangar da TAM do Aeroporto de Congonhas, e me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da SBM [empresa holandesa acusada de pagar propina a funcionários da Petrobras] dizendo que a então presidente Dilma [Rousseff] tinha recebido informação de que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro em uma conta na Suíça. Eu falei: ‘Não tenho, nunca recebi dinheiro da SBM’. Aí ele vira pra mim e fala: ‘E das sondas, tem alguma coisa?’ E eu tinha, né? Mas eu falei: ‘Não, também não tem’. Ele falou: ‘Olha, presta atenção no que eu vou te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome, entendeu?’ Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Não tinha mais o que fazer”, disse Duque, em maio do ano passado.
A informação sobre a colaboração de Duque, divulgada nesta segunda-feira (30), ocorre uma semana depois de o ex-ministro Antonio Palocci também fechar delação, mas com a Polícia Federal (PF).
Os depoimentos de ambos passam a valer depois de serem homologados pelo juiz Sérgio Moro.
Itália
O acordo internacional firmado por Renato Duque está relacionado com apurações na Itália. Em troca de imunidade daquele país, ele tem delatado a participação de empresas italianas em esquema na Petrobras. Esta tratativa já foi validada por Moro.
Duque está preso no Paraná desde março de 2015. Ele já foi condenado a mais de 60 anos de prisão por crimes como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.