A decisão do prefeito de Brumado, no Sudoeste baiano, de suspender o uso obrigatório de máscaras de proteção contra a Covid-19 foi criticada pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, que reiterou não haver orientação do governo estadual para a suspensão do uso do equipamento de segurança. Especialistas em virologia e infectologia defendem que ainda não é o momento para a suspensão do uso da máscara.
O prefeito Eduardo Vasconcelos (sem partido) se baseou na determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que estabelece que estados e municípios são autônomos na tomada de decisões no enfrentamento à pandemia, para justificar a retirada da obrigatoriedade do equipamento de segurança contra o Coronavírus.
A determinação do gestor levou em consideração o fato de os boletins epidemiológicos divulgados diariamente pela Secretaria Municipal de Saúde apontar para uma constante diminuição no número de casos ativos da infecção na cidade. O decreto de nº 5.584, publicado na última segunda-feira (18), também levou em conta que Brumado tem 58.777 pessoas elegíveis para a vacina contra a Covid-19, sendo que, desse total, 88,61% já recebeu a primeira dose e 58,79% a segunda dose.
Eduardo Vasconcelos reforçou que no município não há mais necessidade do uso das máscaras. “Diante do quadro que temos hoje, fechamos as UTIs Covid e também fechamos a UPA Covid. Além disso, também não há registro de novos casos. Por isso, consideramos que o efeito psicológico que prevalece do uso da máscara no pós-pandemia é danoso. Até pelo baixo grau de entendimento das pessoas. Você vê casais que dormem juntos e, dentro do carro, estão sozinhos e de máscara, isso mexe com o parafuso da cabeça da gente”, disse.
Opinião de especialista – Para a epidemiologista do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (CIDACS), Andrêa Ferreira, a decisão do gestor é indevida no momento. “Considero que seja uma decisão precipitada e não alinhada com as evidências disponibilizadas pela ciência até o momento, mesmo diante dos avanços nos números da vacinação nesse município”, disse.
Ainda de acordo com a pesquisadora, no atual momento, não há parâmetros considerados ideais ou seguros para a desobrigação do uso de máscaras. “Alguns países, a exemplo de Portugal, tem testado, com relativo sucesso, a desobrigação do uso de máscaras apenas em locais abertos. Porém, a sua decisão foi pautada em estudos nacionais sólidos e análise de parâmetros específicos, a exemplo da cobertura da vacinação completa, taxa de infeção, variantes circulantes, taxa de internação de Covid-19 entre os jovens e com manutenção da vigilância sobre as variantes do SARS-CoV-2 circulantes e reforço da testagem no país”.
Para a médica infectologista Clarissa Cerqueira, a estabilização do número de casos é um fator positivo. No entanto, é preciso observar outros fatores para se pensar em liberar a obrigatoriedade do EPI. “Também temos que analisar se já temos mais de 50% da população com a vacinação completa. Essa é uma tendência que observamos em alguns países que vem liberando a obrigatoriedade, porém é algo que vai acontecer, mas que poderá ter de voltar atrás”.
A especialista reforçou a necessidade de se manter a adoção de protocolos sanitários de enfrentamento a pandemia. “Temos que focar na vacinação e permanecer com as boas práticas. Por mais que o uso da máscara não seja obrigatório, aqueles que querem se proteger, ao ir em um ambiente com aglomeração, por exemplo, não devem deixar a áscara de lado. Se estivar doente, também continue de máscara. Pode ser um resfriado simples, mas também pode não ser”, fundamentou, reforçando a importância da higienização das mãos e do distanciamento social.