A análise da conjuntura sócio-política e econômica foi destaque na Regional Nordeste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nesta terça-feira, 23, em Salvador. O evento reúne arcebispos e bispos de 26 arquidioceses e dioceses da Bahia e de Sergipe.
O padre Paulo Renato Campos, assessor político da CNBB, discutiu a importância das eleições e de combater as fake news, defendeu as urnas eletrônicas e chamou atenção para o fato de uma “batalha religiosa está em curso no Brasil”.
Ele abordou o fato de as últimas pesquisas indicarem uma clara divisão de preferência entre os dois candidatos mais bem colocados. Enquanto a maior parte dos católicos apoia Lula, o mesmo ocorre entre os evangélicos em relação a Bolsonaro (PL).
“As coisas estão se dividindo e vão se separar cada vez mais. Qual o perigo disso? A gente transformar uma eleição democrática numa guerra religiosa. Ninguém ganha com isso, nenhum debate ganha com isso, nenhum país ganha com isso”, alertou ao temer a violência durante a campanha eleitoral.
Campos ainda reafirmou que as igrejas devem ajudar a esclarecer a população sobre a importância do voto como mecanismo fundamental da democracia, mas sem impor preferência por qualquer candidato, como, segundo ele, ocorre nas instituições evangélicas.
“Os líderes evangélicos hoje têm compromisso forte em fazer com que esse voto aconteça de maneira que os beneficie. Não é uma conscientização. Não é nem mais determinado, aquela coisa do ‘vote em fulano’. Existe um discurso religioso por trás, pra dizer que tem uma salvação, e eles precisam dessa salvação”, explica.
Ainda sobre o cenário eleitoral brasileiro, o assessor político da CNBB reforçou o fracasso de uma terceira via e classificou Bolsonaro e Lula como experiências do passado.
“Bolsonaro defende ideias ultrapassadas, militarismo, controle militar das urnas, um período do país que já vivemos e não gostamos. Lula teve sua chance e mostrou falhas terríveis. Cadê a liderança nova?”, questionou.
Esgotamento do neoliberalismo
O padre Paulo Renato Campos ainda falou sobre o cenário social. Ele atribuiu o aumento da pobreza no mundo à falência do neoliberalismo, quadro aprofundado pela Pandemia da COVID-19.
Para ele, os recursos e meios de produção continuam ainda mais concentrados em um núcleo rentista, não permitindo ao ser humano ser protagonista.
“A face mais cruel desse momento é a fome, que no Brasil tem cor e gênero, e privilegia o Norte e Nordeste”, resumiu Campos.