Uma descoberta recente surpreendeu os pesquisadores brasileiros. Uma nova variante do HIV, identificada como CRF146_BC, foi encontrada em pelo menos três estados do Brasil, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
Essa nova variante é resultado da combinação genética dos subtipos B e C do vírus, que são responsáveis por aproximadamente 81% das infecções por HIV no país. A CRF146_BC foi detectada em amostras de sangue de pacientes nos estados da Bahia, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, revelando sua dispersão geográfica.
A descoberta inicial ocorreu em 2019, em um paciente em tratamento na cidade de Salvador. A análise genética comparativa permitiu aos pesquisadores identificarem a presença dessa variante nos outros dois estados. No cenário global, formas recombinantes como a CRF146_BC respondem por cerca de 23% das infecções por HIV.
Uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, Joana Paixão Monteiro-Cunha, destacou que a nova variante do vírus pode ter surgido devido a uma coinfecção, quando uma pessoa é infectada simultaneamente por diferentes tipos do vírus. Esse processo de infecção dupla pode ter gerado a combinação genética que resultou na CRF146_BC.
Ao discorrer sobre as implicações dessa descoberta, Joana ressaltou que a variante pode estar amplamente disseminada no país, com base nos resultados obtidos em laboratório. Desde 1980, mais de 150 recombinações entre os subtipos B e C do HIV foram identificadas em todo o mundo, indicando a complexidade desse vírus e sua capacidade de adaptação.
Em relação à prevenção e tratamento, o Brasil adota a PrEP como estratégia de combate à Aids. A PrEP consiste na combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam os caminhos de infecção do HIV no organismo. O Ministério da Saúde indica duas formas de uso: a PrEP diária e a PrEP sob demanda, para pessoas expostas ao vírus.
Para quem já foi diagnosticado com HIV, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza medicamentos antirretrovirais para o tratamento da doença. Esses medicamentos são fundamentais para reduzir a carga viral no organismo e alcançar o status de “carga viral indetectável”, que contribui para a saúde do paciente e a prevenção da transmissão do vírus.
Em 2023, registou-se no Brasil 43.403 novos casos de HIV, com a maioria ocorrendo em homens. Ainda há cerca de 190 mil pessoas diagnosticadas com HIV que ainda não iniciaram o tratamento, o que evidencia a importância de campanhas de conscientização e acesso aos serviços de saúde.
Diante desse cenário, a identificação da nova variante do HIV reforça a necessidade de monitoramento constante e adaptação das estratégias de prevenção e tratamento. A pesquisa desenvolvida pela UFBA e Fiocruz contribui significativamente para o entendimento da evolução do vírus no Brasil e no mundo, destacando a importância da vigilância e pesquisa científica na saúde pública.