Continua provocando polêmica e medo a misteriosa doença que seria originária de alguns peixes vendidos em Guarajuba, povoado situado no litoral de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. De acordo informações da Secretaria de Saúde do Estado(Sesab), já seriam 18 pessoas infectadas. A denúncia do uso de formol para preservar peixes, também preocupa.
De acordo com os dados, desse total 16 foram registrados em Salvador, em pessoas de três famílias diferentes que fizeram tratamento em um hospital particular e sendo sete notificados ontem(17). A Vigilância Sanitária Municipal confirma que os sintomas relatados por essas pessoas são semelhantes: dor muscular súbita, sem causa aparente e níveis alterados de CPK, que são enzimas musculares.
As investigações seguem em ritmo acelerado, para evitar a expansão da doença, com trabalho de equipes da Secretaria Municipal de Saúde, Fundação Oswaldo Cruz e outros profissionais da área epidemiológica que seguem fazendo investigações e levantando dados em pacientes infectados.
O rastreamento desses casos é de extrema importância para que os profissionais cheguem à origem do problema e Guarajuba é o principal alvo. De lá, saíram relatos que levaram os especialistas a desconfiarem de que algo errado estaria ocorrendo e os peixes passaram a ser objeto de estudo, também.
A espécie conhecida como Olho de Boi, o Arabaiana, é a mais estudada, pois as dores surgiram horas depois de os pacientes terem comido uma moqueca preparada com esse peixe, conforme os relatórios. Mas por enquanto, essa questão está sendo tratada como “surto de mialgia agura a esclarecer”, conforme os boletins dos setores de epidemiologia de saúde.
Mas já há trabalhos de pesquisa que vêm a possibilidade de a doença ser uma possível variante de mialgia epidêmica ou Doença de Bornholm, pois os sintomas são dor muscular entre o abdômen e o tórax, falta de ar, dor abdominal, febre, dor de cabeça e dor de garganta, causados por uma infecção viral.
A cidade de Valença, no Baixo Sul do estado, também registrou casos dessa doença misteriosa e de lá foram coletadas amostras dos pacientes para identificar possíveis vírus ou agentes transmissivos e se são problemas idênticos aos registrados em Salvador.
Formol
Depois que a imprensa alardeou o problema, começaram também a surgir denúncias de alguns pescadores, afirmando que a doença que a doença misteriosa que causa dores musculares e deixa a urina escura venha do consumo de peixes em Guarajuba, pode ser decorrente da venda de peixe misturado com formol e que é vendido na praia de Guarajuba.
Em matéria publicada pelo Correio, um pescador diz que “um grupo de seis pessoas compra peixe de má qualidade em Salvador e traz até aqui para vender aos turistas. Vendem em baldes com água e formol”, afirma o presidente da Associação de Pescadores de Guarajuba e Monte Gordo, Raimundo da Cruz.
A denúncia diz, ainda, que esta tática usada por ambulantes é para fingir que o peixe está fresco. “Eles chegam em um balde. Aí mela ali na areia, molha no mar e diz que é pescador”, conta o líder comunitário Manoel Alves. “Eles chegam aqui (em Guarajuba) às 8h e saem às 16h, imagine a condição desses peixes”, completa Raimundo.
Na mesma reportagem do Correio, o presidente da associação de pescadores conta ainda que os vendedores mentem sobre a espécie dos peixes. “Vendem cabeçudo e charéu dizendo que é olho de boi. E piraboca como badejo”, revela. Olho de boi é justamente a espécie em que recai a suspeita de causa da doença.
Câncer
O risco do formol em sua aplicação indevida é tanto maior quanto maior a concentração e a freqüência do uso, e se dá pela inalação dos gases e pelo contato com a pele, sendo perigoso para profissionais que aplicam o produto e para usuários. O alerta é feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária;
O formol é considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Quando absorvido pelo organismo por inalação e, principalmente, pela exposição prolongada, apresenta como risco o aparecimento de câncer na boca, nas narinas, no pulmão, no sangue e na cabeça.
Outros riscos
– Contato com a pele: tóxico. Causa irritação à pele, com vermelhidão, dor e queimaduras.
– Contato com os olhos: causa irritação, vermelhidão, dor, lacrimação e visão embaçada. Altas concentrações causam danos irreversíveis.
– Inalação: pode causar câncer no aparelho respiratório. Pode causar dor de garganta, irritação do nariz, tosse, diminuição da freqüência respiratória, irritação e sensibilização do trato respiratório. Pode ainda causar graves ferimentos nas vias respiratórias, levando ao edema pulmonar e pneumonia. Fatal em altas concentrações.
– Exposição crônica: a freqüente ou prolongada exposição pode causar hipersensibilidade, levando às dermatites. O contato repetido ou prolongado pode causar reação alérgica, debilitação da visão e aumento do fígado.