Centenas de pilotos de aviões comerciais estão voando enquanto sofrem de depressão clínica, revela um estudo de pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard. A pesquisa foi realizada após o desastre do ano passado com uma aeronave da companhia Germanwings, derrubada deliberadamente pelo copiloto nos Alpes Franceses. O episódio deixou 150 mortos, entre passageiros e tripulantes.
Esta é a primeira pesquisa a avaliar a saúde mental de pilotos de avião, com foco na depressão e em pensamentos suicidas, produzida fora das informações derivadas de investigações, agências reguladoras e companhias aéreas, que não são tornadas públicas. Além disso, nestes casos, os pilotos podem se sentir pressionados a não responder aos questionários de forma correta para não arriscarem seus empregos. Já o novo estudo preservou o anonimato entre os participantes.
“Descobrimos que muitos pilotos que estão voando possuem sintomas depressivos, e talvez eles não estejam buscando tratamento pelo temor de impactos negativos na carreira”, disse Joseph Allen, coautor do estudo. “Existe um véu de sigilo em torno de questões de saúde mental no cockpit. Usando um questionário anônimo, nós fomos capazes de resguardar as pessoas do medo de relatar seus problemas por causa do estigma e da descriminação no trabalho”.
O estudo foi conduzido entre abril – um mês após o acidente da Germanwings – e dezembro de 2015 com 1.848 pilotos espalhados por mais de 50 países. O questionário apresentava perguntas sobre a atuação profissional e a saúde mental, com base nos padrões do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano. A mistura com questões profissionais foi designada para não sugerir o foco na saúde mental.
Cerca de 3.500 iniciaram o questionário, mas 1.848 foram concluídos. Destes, 233, ou 12,6%, preencheram os critérios para depressão; e 75, ou 4,1%, relataram pensamentos suicidas nas últimas duas semanas. Do total, 1.430 disseram ter voado nos últimos sete dias, sendo que 193 deles preencheram os critérios para a depressão.
Uma proporção maior de pilotos homens, em comparação com as mulheres, relatou experiências “quase diárias” de perda de interesse, sentimento de fracasso, dificuldade para contração e pensamentos de que seria melhor se estivessem mortos. Já as mulheres são mais propensas a serem diagnosticadas com depressão.
“Nosso estudo sugere a prevalência da depressão entre os pilotos de avião, um grupo de profissionais responsável pela vida de milhares de pessoas todos os dias”, disse Alex Wu, estudante de doutorado na Universidade Harvard e autor principal do estudo. Que ressalta a importância de avaliar com precisão a saúde mental dos pilotos e o apoio ao tratamento preventivo.
Agência O Globo