Estudantes de uma turma do 5° semestre do curso de enfermagem do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), no campus da avenida Paralela, em Salvador, foram contaminados pelo vírus da caxumba na última semana. O grupo afetado é do turno da manhã, mas há relatos de alunos de que pessoas de outros cursos e períodos já apresentaram sintomas da doença. Segundo eles, 15 universitários, ao menos, já foram infectados com o vírus.
O surto resultou no cancelamento dos estágios de alguns estudantes, que seria em um lar de idosos, já que a caxumba é uma doença infectocontagiosa e que pode trazer complicações para pessoas da terceira idade.
Os alunos que apresentaram atestado médico, comprovando a doença, foram liberados pela universidade. No entanto, com o aumento de relatos da enfermidade nesta segunda-feira, 27, parte dos alunos da unidade acredita que a decisão correta seria o cancelamento geral das aulas por um determinado tempo.
“Todos na faculdade estão expostos. Já têm duas pessoas da noite que pegaram a caxumba. Uma delas tem um filho de dois anos em casa. Eles [a faculdade] não cancelaram as aulas e nem se manifestaram para nada. Não deram nenhuma resposta, aliás, não tocaram no assunto”, reclamou uma das alunas do curso de enfermagem do turno da noite.
Já uma estudante da turma de enfermagem da manhã fez um desabafo no Facebook. Ela afirmou não ir mais para a faculdade até que a situação seja resolvida, pois “tem um filho e zela pela saúde dele e de toda família”.
Faculdade promove vacinação
A Unijorge, por meio da assessoria, disse em nota que a direção do centro foi informada sobre os casos de caxumba na última sexta, 24. Preventivamente, a instituição cancelou as atividades externas que estavam programadas naquele dia e orientou aos estudantes que buscassem atendimento médico para diagnóstico adequado.
Segundo a faculdade, nesta segunda, uma das alunas que está com caxumba recebeu a confirmação da Vigilância Epidemiológica do município de Salvadorde que foi infectada. Com isso, a Unijorge diz que, na próxima quinta, 30, promoverá vacinação da tríplice viral no campus Paralela para alunos das turmas que foram registradas casos da doença. Poderão ser imunizados todos os que não estiverem com a vacinação em dia, ou necessitarem de dose de reforço para prevenção.
Sobre o fato de não ter interrompido as atividades em toda a unidade, a faculdade afirma que a recomendação do Centers for Disease Control and Preventio (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, e do Ministério da Saúde, é de que apenas as pessoas em tratamento fiquem afastadas de suas atividades por nove dias, período em que a transmissão é mais intensa, não havendo a necessidade de evacuação do local e cancelamento de atividades.
“Seguindo as recomendações dos órgãos competentes, as aulas seguem normais e as atividades acadêmicas para os alunos, que necessitarem de afastamento por este motivo ou qualquer outro motivo de doença, serão repostas conforme legislação vigente”, diz comunicado divulgado pela Unijorge.
Sintomas, complicações e tratamento
O infectologista Fábio Amorim alerta que esse não é o primeiro surto da doença em Salvador. No segundo semestre do ano passado, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) divulgou um balanço que indicou um aumento de quase 2.500% da doença na capital.
Na época, foram registrados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan) 596 casos de Caxumba na Bahia, sendo 540 somente em Salvador, incluindo surto em três unidades de empresa de telemarketing, em 11 escolas, em uma república de estudante e mais outra em um hospital.
“Esse surto iniciou no Rio Janeiro e Salvador, como grande circuito de turismo, naturalmente foi afetada”, analisou Amorim.
Questionado sobre o porquê da facilidade na proliferação do vírus, o infectologista alegou a negligência das pessoas que não dão importância à vacinação. “O não cumprimento do calendário do cartão vacinal é o principal fator para o surto. Quando fazemos buscas no sistema, encontramos um alto número de jovens que não se vacinam”, lembrou.
Somada a isso, a instabilidade do clima também leva ao aumento de infecções e de doenças como a caxumba. Por isso, é preciso lembrar das datas para vacinação e sempre procurar postos de saúde, segundo o médico.
‘Papeira’
Mais conhecida como ‘papeira’, a caxumba é uma doença provocada por um vírus da família paramyxovirus, que provoca inflamação nas glândulas responsáveis pela produção de saliva. Os principais sintomas são: inchaço e dor nas laterais do pescoço, logo abaixo do maxilar.
A caxumba pode gerar complicações graves, como meningite viral – uma forma mais grave da infecção que atinge as membranas que envolvem o encéfalo.
Também é possível desenvolver orquite, que é a inflamação dos testículos, e a ooforite, inflamação dos ovários. A doença também pode contribuir para a surdez, embora seja um caso raro.
Atarde